sábado, 13 de outubro de 2012

Pousada Transilvânia - Parte III (Final)

(Veja a parte I e a parte II)

Alguma coisa tinha que ser feita.

Estávamos com dois problemas. O primeiro era o café da manhã servido. O segundo era sermos “estranhos” na pousada repleta de amigos.

Após o café da manhã, digno de um SPA, fomos passar o dia na Serra do Cipó. Lá, enfiamos o pé na jaca novamente, no restaurante do Marquinho, conhecido por suas porções generosas.

Depois de passear nas cachoeiras da região, voltamos para Lagoa Santa, ou Poça Santa, como queiram.

Na estrada, meu cunhado sugeriu que comprássemos algo para incrementar o café do dia seguinte. Fomos a um supermercado e compramos algumas coisas.

E foi quando chegamos na Pousada é que fomos surpreendidos novamente.

Não bastava haver somente amigos da dona da pousada.

Tinha que haver amigos evangélicos da dona da pousada.

Eu não tenho nada contra religião. Nada mesmo. Juro por Deus, Buda, Alá e etc.

Mas fico meio incomodado com uma gritaria que essas pessoas arrumam na hora de orar.

E lá estavam eles. Em pé, em volta da piscina, orando e louvando ao senhor, porém gritavam. Eu não possuía aparelhos para medir os decibéis, mas acho que Pavarotti e a Tetê Espíndola não atingiam aquele volume.

Minha namorada e minha irmã resolveram subir para o quarto. Temi pelo suicídio delas, mas confiava que Deus estaria presente naquele momento e assumiria que todo aquele final de semana seria uma provação, uma espécie de consórcio para o céu. Apareceriam câmeras, pessoas bateriam palmas e diriam que era tudo pegadinha e que fomos sorteados, passamos por todo o teste, e agora poderíamos viver o resto de nossos dias com a certeza de que teríamos um latifúndio celestial.

Pelo menos era a esperança.

Ficamos eu e meu cunhado, bebendo e vendo aquilo. Era até divertido. Mas estávamos com fome e resolvemos pedir uma pizza.

Quando a dita cuja chegou e as meninas desceram, tive mais certeza de que estávamos em um SPA. Pessoas pararam de orar e ficaram olhando para nós, aliás, ficaram olhando para a pizza.

Cheguei a ficar de costas para o povo, com medo da pizza cair.
Mas logo eles voltaram a rezar e nós fomos tentar dormir, esperando pela vingança no café da manhã.

Assim que amanheceu, descemos as escadas munidos de sacolas de supermercado. Cada um de nós tinha uma.

Sob olhares suspeitos (os famintos deviam estar sentindo cheiro de comida) sentamos à mesa. E vieram os mamões. Os mistos. Os sucos. E nós comemos.

E só aí tiramos as sacolas do chão e colocamos sobre as mesas.

Parecia filme de faroeste.

Imaginem o bandido entrando no Saloon. Imaginaram? Foi igualzinho.

Pessoas que estavam levando os copos/xícaras à boca pararam e ficaram olhando. A moça que estava no balcão enxugando o copo, paralisou com o pano dentro do copo. Uma mocinha que estava varrendo o chão virou estátua. Acho até que se tivesse alguém tocando piano, iria parar.

Pacotes de pão. Nutella. Biscoitos recheados. Um bolo de chocolate. Uma garrafa de suco. Uma caixa de bombons.

Uma explosão calórica estava ali, em cima da mesa.

E apenas nós, nos esbaldando. Após 2 manhãs com café regrado, estávamos tirando a barriga da miséria, literalmente. Tivemos um orgasmo gastronômico. Graças a imensas porções de açúcares e gorduras saturadas.

E tudo sobre os olhares daquelas pessoas que estavam paralisadas, apenas assistindo.

Comemos tudo. Com alegria e satisfação. Parecíamos que íamos explodir como aquela moça da novela.

Subimos para os quartos para arrumar as coisas, pois já era domingo.

Após tomar o último choque na torneira do chuveiro e apreciar a vista para a Poça Santa, fomos despedir da dona da Pousada.

A mesma, visivelmente sem graça por causa do café, pediu desculpas pela escassez do mesmo.

E pediu desculpas pelas gritarias, pela falta de visão da lagoa, por só ter amigos dela lá. E desabafou sobre a situação financeira da pousada, alegando estar sem dinheiro pra quase nada e disse que a casa já estava à venda.

Sorrimos pra ela apenas.

Não queríamos pedir desculpas por nada. Mas também ficamos sensibilizados.

O problema foi só a olhada, dos pés a cabeça, que a dona deu em cima da minha namorada. Um olhar de desejo.

Minha única reação foi passar o braço para os ombros de minha futura esposa e nos retirarmos de lá.

Já na estrada, pensando sobre tudo, fui surpreendido.

- Até que não tão ruim né?

- Hã?

- Assim. Os quartos são bonitinhos.

- É.

- Bom, no próximo feriado a gente pode voltar a Lagoa Santa.

- É.

- Você viu aquela placa ali? Parece que a pousada é boa...

- Não vi não.

- Quando chegar em BH eu vou olhar na internet se esta pousada da placa que vi é boa mesmo.


Ela olhou e voltamos à Lagoa Santa.

Mas só porque havia fotos do café-da-manhã no site. E da vista da Lagoa.

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