segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Anos 90

Não é sempre que ele gosta de se lembrar do que viveu naqueles anos 90.

Parecia que era ontem, quando era apaixonado por uma menina da faculdade e quase morreu do coração quando ela lhe convidou pra conhecer o seu apê. Inocente, apaixonado, estava crente, crente que ia viver uma história de amor.

Se preparou psicologicamente para aquele momento. Contava os dias até chegar o dia combinado. Ela era linda e ele só queria contar o que sentia, mas não conseguia. Era incrível como é que uma coisa assim machucava tanto e toma conta de todo seu ser, era uma saudade imensa que partia o coração, era a dor mais funda que uma pessoa podia ter.

Arranjou um carro importado, uma beca e um celular (na verdade era tudo emprestado, não tinha nem onde morar) e estava pronto para encontrá-la no dia marcado.

E o domingo chegou. Ele só queria encontrá-la e desabafar todo o seu sofrer. Estar ao teu lado, esquecer de tudo, tudo que o amor até lá fazia sofrer. E ela linda, abriu a porta. Só queria dizer pra ela “encosta seu rosto no meu, chega mais perto de mim, faça de conta que eu sou teu namorado. Amar você é bom demais, é tudo que eu posso querer, Se tudo você tem melhor, pior é te perder”.

Mas não conseguiu. Aquilo estava entalado dentro dele.

- Oi.

- Oi.

- Entra, fica a vontade. Você tem toda liberdade aqui. Já volto.

"Quero te abraçar. quero te beijar..."
E ele pensava "o que é que ia fazer com essa tal liberdade se estou na solidão pensando em você. Eu nunca imaginei sentir tanta saudade, meu coração não sabe como te esquecer. Eu andei errado, eu pisei na bola, troquei quem mais amava por uma ilusão, mas a gente aprende a vida é uma escola não é assim que acaba uma grande paixão. Quero te abraçar, quero te beijar, te desejo noite e dia. Quero me prender todo em você, você é tudo o que eu queria. "


E ela voltou, enquanto pensava nela.

- Senta aqui, quero te mostrar uma coisa.

- Claro.

- Mas olha, to com medo de te mostrar isso. Meu sonho está aqui.

- Olha, nosso sonho não vai terminar, desse jeito que você faz. Se o destino adjudicar, esse amor poderá ser capaz, gatinha.

- Mas...

- Sério, nosso sonho não vai terminar, desse jeito que você faz. E depois que o baile acabar, vamos nos encontrar logo mais...

- An?

- Err.. nada, to dizendo que o sonho não vai acabar, pode confiar em mim.

- Tá, olha.

- Isso é...

- É.

- Mas...

- Que foi?

- Nada...

- Peraí... você está triste. Não estou te entendendo. Era pra você estar feliz por mim!

- É porque... porque...

- Ei! Peraí! Não me vem dizer que você gosta de mim. Você disse ano passado que não gostava de mim!

- Olha, eu menti quando disse que não te queria, quando disse que minha alegria era viver longe de você. Eu menti, pois o meu coração me obrigou e nos meus olhos você pode ver, está sofrendo o meu interior.

- Tá louco?

- Claro! O amor faz a gente enlouquecer, faz a gente dizer coisas pra depois se arrepender... Mas depois vem aquele calafrio e o medo da solidão me faz perder o desafio. Aí vem o desespero, machucando o coração, eu me entrego por inteiro, implorando o seu perdão...

- É, realmente você está louco. Abra pelo menos...

- Não. Eu sei do que se trata.

- Mas você me largou! Eu fiquei sozinha precisando de você e você sem estar por perto pra poder me ajudar. A estrada desta vida foi difícil sem você, e você sem estar por perto pra poder me ajudar...

- Peraí, eu disse que a gen...

- Peraí nada! Você jogou fora o amor que eu te dei, o sonho que sonhei, isso não se faz. Você jogou fora a minha ilusão, a louca paixão, é tarde demais... Que pena, Que pena amor, que pena, que pena amor...

- Eu sei que eu errei, mas eu preciso de você, estou cansado de sofrer, estou com medo de não aguentar, estou perdendo a razão de viver...

- Olha, faz assim. Vai embora. Preciso pensar.

- Tá.

- Não esquece o que eu te dei...

- Ok.

E ele foi pra casa com aquele envelope na mão. O tempo passou e ele sofreu calado, não deu pra tirar ela do pensamento, ele ficou mais apaixonado, mas viu que era um convite de casamento. Com letras douradas, num papel bonito, chorou de emoção quando acabou de ler. Num cantinho rabiscado no verso, ela disse “meu amor, eu confesso. Estou casando, mas o grande amor da minha vida é você”.

Tentou em vão mandar um bilhete, através da amiga dela, onde pedia “Me liga! Me manda um telegrama, uma carta de amor... Que eu vou até lá, eu vou! Que eu vou até lá, Eu vou! Que eu vou até lá...”, mas não obteve resposta.

Apesar de ser obrigado a aceitar que foi preciso perder, pra aprender a valorizar a mina de fé.

Mas no fim, não se importou, e acabou voltando pra sacanagem, pra casa de massagem, pois ali sempre foi seu lugar. Já estava com saudade, das velhas amizades e hoje ia se embriagar.








Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha  

Um comentário:

  1. Seu adorável irreverente!
    Continue caminhando. O acaso vai te proteger enquanto tu andar distraído.
    Tina.

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