quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Quadrinhos


Eu adoro quadrinhos.

Quando eu disse isso pela primeira vez para todas as pessoas que eu convivo diariamente (amigos, colegas de trabalho, namorada, família e o motorista e o trocador do ônibus que eu pego) todos eles pensaram (e tenho certeza de que você está pensando agora) na mesma coisa: Coisa de criança.

Infelizmente, tal concepção já faz parte do imaginário popular e não serei eu, um mero mortal, que irei mudar o consciente coletivo.

Obviamente, comecei a ler quadrinhos por culpa das revistinhas da Turma da Mônica que meus pais me davam para eu ficar quieto e não perturbá-los. E eu curtia muito. Além disso, lia também as tirinhas de jornal e as outras revistas destinadas ao mundo infantil, como as da Disney, Bolinha e afins.

Quando completei a adolescência, numa bela tarde sem nada pra fazer, fui até a banca e a capa de uma revista do Homem-Aranha me chamou a atenção. E então, comprei. E no mês seguinte, resolvi comprar para saber a continuação da história. E no outro mês também, e repeti o processo por mais de 10 anos, sempre, como referência, as revistas do aracnídeo.

Mas também comprava (quando o dinheiro sobrava) revistas do Batman, Superman, X-men e outros heróis. E então, a dona da banca, fazia parte da minha vida nesta época.

A banca da minha rua era meu mundo e sempre que chegam revistas novas, a dona da banca reservava para mim. Eu era a única pessoa, que eu saiba, que adentrava a banca e sentava no chão escolhendo meus quadrinhos. Eu podia até ler algumas páginas antes de levar pra casa. Me sentia o cliente preferencial e se houvesse programas de fidelidade para clientes fiéis, meu cartão seria o número 1.

Porém, como tudo na vida, chega a decepção. Um dia, procurei uma revista e não encontrei. Alguns conhecidos já tinham em mãos o exemplar desejado, mas não queria e nem podia trair a dona da banca. E insisti por uma semana, mas a revista não chegava. Minha curiosidade para ler era tão grande que não resisti e comprei em outra banca.

A partir deste dia, minha confiança com a dona se despedaçou. E, com um grande vazio, passei a comprar as revistas nas bancas mais próximas.

Não sei se é porque as bancas hoje em dia não vendem quadrinhos como vendiam antigamente ou sou eu que não sabe mais quais bancas são boas, mas o fato é que sempre que quero comprar uns quadrinhos vou às livrarias.

E esse é o problema dos quadrinhos hoje em dia: As livrarias que os vendem.

Na semana passada eu fui procurar um exemplar da terceira e última parte da trilogia Fracasso de Público: Adeus, escrita por Alex Robinson.




Ao chegar na livraria, a conversa já inicia do ponto que me deixa meio estressado.

- Moça, por favor, onde fica a parte de quadrinhos?

- Ali, junto da sessão infantil.

Nada me deixa mais puto no quesito quadrinhos do que ouvir esta resposta.

Sempre me pergunto como que uma livraria, instalada na capital onde ocorre o tradicional Festival Internacional de Quadrinhos – o próximo será em 2013 -, responde algo assim. É muita falta de visão de mercado.

Enfim, diante da resposta da moça, perguntei:

- Ok. Estou procurando um livro chamado Fracasso de Público. Vocês têm?

- Olha, as promoções estão ali.

- Moça, este livro já está na promoção? Tem pouco tempo que lançaram...

- Ah, mas se teve fracasso deve estar ali.

(Que raiva de gente assim, meu Deus... )

- Não moça, você não entendeu. Ele chama “Fracasso de Público”. Você poderia confirmar se existe no estoque?

- Ih moço, eu não trabalho na parte de livros não. Trabalho na parte de música...

Nem respondi. E fui procurar por conta própria.

E o que vemos nesta parte de quadrinhos é uma verdadeira aberração. Não sei se existe normas da ABNT para organização de livros em livrarias, mas se existe, estas normas foram comidas com angu e taioba pelos donos deste estabelecimento em específico.

Não existe organização! Não estão em ordem alfabética por títulos da obra, nem por nome do autor, nem por nome da editora, nem classificados pelas cores da capa. Nem por tamanho. Simplesmente estão (des)organizados por ordem de chegada na livraria. O caos total.

Muitos vão dizer que isso não tem nada a ver. Que é frescura, que ninguém lê isso mesmo, que quadrinhos é coisa de criança e etc.

O problema é que existe quadrinhos para adultos sim. Quadrinhos violentos, quadrinhos eróticos, quadrinhos de suspense, de drama e etc. E estes quadrinhos são colocados ao lado da estante dos quadrinhos da Turma da Mônica, e tudo por ignorância de quem “organiza” as HQ’s na livraria.

Existem quadrinhos orientais chamados Hentais que trazem o traço oriental puxado para o erotismo ou a pornografia mesmo. E eles estavam em uma estante, ao lado da Turma da Mônica, misturados em uma seção de mangás. (Não acho que esses desenhos são parecidos com o Cebolinha e sua turma para dividirem estantes).

E não somente os hentais. Existem outros traços de quadrinhos que também são erotizados, ou mais violentos. Quando forem a alguma livraria (aqui em BH, procurem a Leitura, FNAC, Saraiva e etc) procurem a seção de quadrinhos, provavelmente na seção infantil, e folheiem algumas revistas lá.

Não pensem que estou criticando as artes. Acho válidas e gosto bastante de quadrinhos violentos ou arcos mais dramáticos. Mas acho que eles deveriam ser melhores alocados nas livrarias.

Quando vi um Hentai ao lado da revista da Turma da Mônica pedi para me chamarem o gerente da loja. Mostrei o quadrinho e onde estava localizado. Falei que estava ao alcance de crianças.

O cara ficou constrangido e falou que ia mudar o layout do lugar e organizar melhor os quadrinhos.

Como disse láááá acima no texto, não conseguirei mudar o consciente coletivo sobre a ligação dos quadrinhos e crianças, mas não posso deixar de mostrar às livrarias como um consumidor de quadrinhos deve ser tratado.

PS1: Não achei o quadrinho que procurava, apesar de constar no estoque da loja.

PS2: As críticas quanto às livrarias em BH não se enquadram à unidade da Livraria Leitura da Savassi. Lá existe um andar somente para quadrinhos, todos muito bem alocados, por temas, e com funcionários que entendem do assunto.

PS3: Comprei Fracasso de Público via internet. Já li e recomendo demais.


Texto originalmente publicado no blog Melhores do Mundo.

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