Eu adoro quadrinhos.
Quando eu disse isso pela
primeira vez para todas as pessoas que eu convivo diariamente (amigos, colegas
de trabalho, namorada, família e o motorista e o trocador do ônibus que eu
pego) todos eles pensaram (e tenho certeza de que você está pensando agora) na mesma coisa: Coisa de
criança.
Infelizmente, tal concepção
já faz parte do imaginário popular e não serei eu, um mero mortal, que irei
mudar o consciente coletivo.
Obviamente, comecei a ler
quadrinhos por culpa das revistinhas da Turma da Mônica que meus pais me davam para eu ficar
quieto e não perturbá-los. E eu curtia muito. Além disso, lia também as
tirinhas de jornal e as outras revistas destinadas ao mundo infantil, como as
da Disney, Bolinha e afins.
Quando completei a adolescência, numa bela tarde
sem nada pra fazer, fui até a banca e a capa de uma revista do Homem-Aranha me
chamou a atenção. E então, comprei. E no mês seguinte, resolvi comprar para
saber a continuação da história. E no outro mês também, e repeti o processo por mais de 10 anos,
sempre, como referência, as revistas do aracnídeo.
Mas também comprava (quando
o dinheiro sobrava) revistas do Batman, Superman, X-men e outros heróis. E
então, a dona da banca, fazia parte da minha vida nesta época.
A banca da minha rua era meu mundo e
sempre que chegam revistas novas, a dona da banca reservava para mim. Eu era a
única pessoa, que eu saiba, que
adentrava a banca e sentava no chão escolhendo meus quadrinhos. Eu podia até
ler algumas páginas antes de levar pra casa. Me sentia o cliente preferencial e se houvesse programas de fidelidade
para clientes fiéis,
meu cartão seria o número 1.
Porém, como tudo na vida, chega a decepção. Um dia, procurei uma revista e não encontrei. Alguns
conhecidos já tinham em mãos o exemplar desejado, mas não queria
e nem podia trair a
dona da banca. E insisti por uma semana, mas a revista não chegava. Minha
curiosidade para ler era tão grande que não resisti e comprei em outra banca.
A partir deste dia, minha
confiança com a dona se despedaçou. E, com um grande vazio, passei a comprar as revistas nas bancas
mais próximas.
Não sei se é porque as
bancas hoje em dia não vendem quadrinhos como vendiam antigamente ou sou eu que não sabe mais quais bancas são boas, mas o fato é que sempre que quero comprar
uns quadrinhos vou às livrarias.
E esse é o problema dos
quadrinhos hoje em dia: As livrarias que os vendem.
Na semana passada eu fui
procurar um exemplar da terceira e última parte da trilogia Fracasso de
Público: Adeus, escrita por Alex Robinson.
Ao chegar na livraria, a conversa já inicia do
ponto que me deixa meio estressado.
- Moça, por favor, onde
fica a parte de quadrinhos?
- Ali, junto da sessão
infantil.
Nada me deixa mais puto no
quesito quadrinhos do que ouvir esta resposta.
Sempre me pergunto como que
uma livraria,
instalada na capital onde ocorre o tradicional Festival
Internacional de Quadrinhos – o próximo será em 2013 -, responde algo assim. É muita falta de
visão de mercado.
Enfim, diante da resposta
da moça, perguntei:
- Ok. Estou procurando um
livro chamado Fracasso de Público. Vocês têm?
- Olha, as promoções estão
ali.
- Moça, este livro já está
na promoção? Tem pouco tempo que lançaram...
- Ah, mas se teve fracasso
deve estar ali.
(Que raiva de gente assim, meu Deus... )
- Não moça, você não
entendeu. Ele chama “Fracasso de Público”. Você poderia confirmar se existe no
estoque?
- Ih moço, eu não trabalho na parte de livros não. Trabalho na parte de
música...
Nem respondi. E fui procurar por conta própria.
E o que vemos nesta parte
de quadrinhos é uma verdadeira aberração. Não sei se existe normas da ABNT para
organização de livros em livrarias, mas se existe, estas normas foram comidas com angu e taioba pelos donos deste estabelecimento em específico.
Não existe organização! Não
estão em ordem alfabética por títulos da obra, nem por nome do autor, nem por
nome da editora, nem classificados pelas cores da capa. Nem por tamanho. Simplesmente estão
(des)organizados por ordem de
chegada na livraria. O caos total.
Muitos vão dizer que isso
não tem nada a ver.
Que é frescura, que ninguém lê isso mesmo, que quadrinhos é coisa de criança e
etc.
O problema é que existe
quadrinhos para
adultos sim. Quadrinhos violentos, quadrinhos eróticos, quadrinhos de suspense,
de drama e etc. E estes quadrinhos são colocados ao lado da estante dos
quadrinhos da Turma da Mônica, e tudo por ignorância de quem “organiza” as HQ’s
na livraria.
Existem quadrinhos orientais chamados Hentais que trazem o traço oriental puxado para o erotismo ou a pornografia
mesmo. E eles estavam em uma estante, ao lado da Turma da Mônica, misturados em
uma seção de mangás. (Não acho que esses desenhos são parecidos com o Cebolinha e sua turma para dividirem estantes).
E não somente os hentais.
Existem outros traços
de quadrinhos que também são erotizados, ou mais violentos. Quando forem a alguma livraria (aqui em BH, procurem a Leitura, FNAC,
Saraiva e etc) procurem a seção de
quadrinhos, provavelmente
na seção infantil, e
folheiem algumas revistas lá.
Não pensem que estou
criticando as artes. Acho válidas e gosto bastante de quadrinhos violentos ou arcos mais
dramáticos. Mas acho que eles deveriam ser melhores alocados nas livrarias.
Quando vi um Hentai ao lado
da revista da Turma da Mônica pedi para me chamarem o gerente da loja. Mostrei
o quadrinho e onde estava localizado. Falei
que estava ao alcance de crianças.
O cara ficou constrangido e falou que ia mudar o layout do lugar e organizar melhor os quadrinhos.
Como disse láááá acima no
texto, não conseguirei mudar o consciente coletivo sobre a ligação dos quadrinhos e
crianças, mas não posso deixar de mostrar às livrarias como um consumidor de
quadrinhos deve ser tratado.
PS1: Não achei o quadrinho que procurava, apesar de
constar no estoque da loja.
PS2: As críticas quanto às
livrarias em BH não
se enquadram à unidade da Livraria Leitura da Savassi. Lá existe um andar
somente para quadrinhos, todos muito bem alocados, por temas, e com
funcionários que entendem do assunto.
PS3: Comprei Fracasso de Público via internet. Já li e recomendo demais.
Texto originalmente publicado no blog Melhores do Mundo.
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