terça-feira, 11 de agosto de 2015

A Testemunha de Moussevá


Um dos problemas que enfrento no meu trabalho é a reduzida oferta de restaurantes para almoçar.

Basicamente eu tenho três opções. Existe a mais barata, porém mais gordurosa; a intermediária no preço e na variedade e a opção mais variada, saborosa e cara.

No começo do mês, dou prioridade ao restaurante intermediário e poucas vezes vou ao mais caro. Depois do dia 20, nem penso e procuro a opção mais barata sempre.

Por isso, quando abriu um novo restaurante pelas redondezas não pensei duas vezes para saber em qual categoria iria classificá-lo.

Ao chegar e ver que o preço era mais barato do qualquer restaurante num raio de 10 km, meu sentido de aranha disparou. Algo estava errado e não era a grafia “Beringela à moda” no quadro.

Conforme aprendi no MasterChef, surpreender com comida simples é mais difícil do que com pratos mais elaborados. Me servi de arroz, feijão, bife, fritas e salada, acompanhado de um suco de laranja para harmonizar.

Empurrei o prato e comecei a mexer no twitter, naquele momento em que se espera o almoço descer ou a fila do caixa diminuir – o que acontecer primeiro. Tudo indo bem até que a Testemunha de MousseVá chegou à mesa.

- Boa tarde.

- Boa tarde.

- Foi bem atendido.

- Sim, obrigado.

- Posso recolher seu prato?

- Claro, obrigado.

- Você deseja uma sobremesa?

- Não sei.

- Temos uma mousse de chocolate muito boa.

- Hummm. Tem mais alguma outra coisa?

- Temos pudim de leite condensado, torta de Bis, “saladifrutas”...

- Bacana

- E Mousse de Chocolate.

Quem me conhece sabe que eu sou alucinado com Pudim de Leite Condensado.

- Quanto tá o Pudim de Leite Condensado?

- Três e Cinqüenta. Quer que pega?

- Não sei... Acho que vou pegar uma paçoquinha mesmo.

- A Mousse de Chocolate tá três e vinte.

- Não, obrigado.

- Tá uma delícia.

- Eu imagino que esteja mesmo, mas obrigado.

- Quer o pudim?

- Tá, pode ser.

- Certeza que não quer Mousse?
- E Mousse?

- Não. Só o pudim mesmo.

- Tão tá. Vou buscar.

Eu tinha certeza que essa moça ia voltar à mesa acompanhada de outras duas mulheres, que elas iriam trazer mousse de chocolate e falar dos benefícios dele pra minha vida, e deixar uma revista chamada Experimentai com todas as receitas de mousse de chocolate conhecidas. Por isso a chamei.

- Moça, só o pudim tá?

- Claro.



Voltei minha atenção para o twitter até que a moça voltou.

- Aqui o Pudim.

- Obrigado.

- E trouxe mousse também. Olha como tá bonito.

- Olha moça, obrigado mesmo, mas não quero mousse. Só o Pudim.

- Ok. Mais alguma coisa?

Meu medo era falar “um café” e ela me trazer “Mousse de café”. Ou falar “nada” e ela entender “mousse de nata” ou um “brigado” e aparecer um “mousse de brigadeiro” na mesa.

- Não. Agradecido.

Comi meu pudim, fui para o caixa o mais rápido possível e voltei pro serviço.

Mas se o interfone da minha casa tocar às oito da manhã num domingo, vou me certificar pelo olho mágico primeiro.


Vai que é alguém me oferecendo mousse de chocolate...



Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha

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