Não tinha o mesmo
pique de antes e precisava garantir minha aposentadoria, só não sabia como.
Sentei na
arquibancada de cimento do Colégio e, olhando para o pátio, fiquei pensando em
como ganhar dinheiro e me aposentar.
Os meus pensamentos
foram cortados por uma briga, que aconteceu no meio de uma partida de futebol na aula de Educação
Física. Um cara magrelo apelou com um cara forte, não sei por que, e a briga
começou. Briga não, massacre. Era como se o Aquaman quisesse brigar com o Hulk.
Aí foi aquilo que
todo mundo que passou por um colégio até a década de 90 sabe: Chega a turma do deixa disso e o cara forte diz “Te
pego lá fora”. Ou seja: era dia de almoçar mais tarde.
Nesse momento, uma
amiga de turma chegou e me ofereceu brigadeiros que ela vendia pra poder ir a
um show do Hanson no Rio de Janeiro. Após me tornar o feliz proprietário de
dois brigadeiros, agradeci e continuei olhando para o pátio.
Enquanto A Menina
dos Brigadeiros continuou vendendo seus docinhos, um colega de classe
aproximou, com sete brigadeiros na mão.
- Fala aí,
Guilherme.
- Beleza, Fabinho
(nome fictício)?
- Cara, sou
apaixonado por essa menina.
- Tô vendo, comprou
sete brigadeiros.
- Pois é, tô
querendo ajudá-la a viajar pro Rio.
Como todo
adolescente (pequenos machistinhas), achávamos que o caminho para o coração de
uma menina era ajudá-la a realizar algum sonho, já aguardando que ela fosse
demonstrar a gratidão pelo auxílio com um beijo na boca de cinema e não com um
“Nossa. Nem sei como te agradecer. Obrigada mesmo”.
- Legal. Acho que
vai dar certo.
- Também. Tô
juntando uma grana aí... Você sabe quanto custa uma passagem pro Rio,
Guilherme?
- Não tenho a
mínima ideia.
- Beleza, valeu.
Nesse momento chega
meu amigo de fé, meu irmão, camarada, parceiro e fiel escudeiro das aventuras
anteriores: Barata.
- Cara, marcaram a
briga. Uma hora da tarde lá na (Rua) Cambuquira.
- Bacana demais,
Barata.
- Pois é. Fabinho
que vai gostar. Vai ter gente vendendo brigadeiro lá.
- Sério, Barata?
- Sério, Fabinho.
O menino ficou tão
feliz, que saiu pra ligar pra mãe e avisar que não ia almoçar em casa. E aí uma ideia me
veio à cabeça.
- Barata. E se a
gente fizer banca de apostas nessa briga?
- Boa, Gui!
Já descemos das
arquibancadas, arrancamos folhas do caderno e saímos buscando apostadores pelo
pátio. Era um sistema simples. Ou apostava no Forte ou apostava no Fraco.
Depois de recolher a grana, iríamos tirar 20% da taxa de corretagem (metade pra
mim, metade pro Barata) e dividiríamos os 80% entre os vencedores.
Anunciamos a briga,
confirmamos a Menina dos Brigadeiros, tentamos patrocínio com o Tio Baleiro da
porta (em vão) e chegamos cedo.
Faltando 20 minutos
pra começar a briga, o Forte ainda não tinha chegado, enquanto o Fraco estava
sentado na calçada. Não sei se estava rezando ou tentando aprender algum
feitiço de última hora, mas estava com um livro aberto nas mãos.
Eu queria muito estar
com uma jaqueta de couro, chapéu, todo de preto, óculos escuros e cigarro no
canto da boca em algum canto pegando apostas. Mas estava apenas de mochila nas
costas e tentando não perder os óculos.
Eu e Barata, na nossa imaginação. |
Até que a Menina dos Brigadeiros
chegou. Radiante.
- Oi, Gui.
- Oi!
- Acho que
consegui o dinheiro todo! \o/
- Pô, legal demais!
Parabéns.
- Pois é. Nem
acredito que vou ver o Hanson! \o/ Problema vai ser só trocar esse dinheiro
todo. Olha a quantidade de moedas?
Eu aprendi no
Poderoso Chefão que podemos fazer favores, pois podemos precisar de favores
dessa mesma pessoa no futuro. Por isso chamei o Fabinho, cujo pai trabalhava em
banco.
- Fala Guilherme!
- Opa! Fabinho,
tenho certeza de que você poderá ajudar essa bela moça. Eu sei que parece que
ela assaltou a cestinha da Igreja, mas ela só precisa trocar esse dinheiro aí.
Seu pai trabalha em banco né?
- Sim.
- Pois é. Fala pra
ele trocar pra ela.
- Claro que eu
ajudo.
E a Menina dos
Brigadeiros saiu com o Fabinho para resolver as questões burocráticas. Agora
era hora de me concentrar nas apostas.
Forte e Fraco já
estavam lá. Decidiram que o primeiro round duraria cinco minutos. Se o Fraco
ainda estivesse vivo, haveria o segundo round. Caso ainda resistisse,
chamaríamos o Guiness.
Meio dia e
cinqüenta e sete. Tudo pronto.
Enquanto deixava a
prancheta das apostas com o Barata, o Fabinho voltou.
- Puta que pariu,
Guilherme, me ajuda.
- Que foi, Fabinho?
(continua...)
Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha
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