terça-feira, 17 de março de 2015

A Menina dos Brigadeiros - Parte I


Depois de algumas aventuras contadas aqui, aqui e aqui, eu estava ficando velho pra isso.


Não tinha o mesmo pique de antes e precisava garantir minha aposentadoria, só não sabia como.

Sentei na arquibancada de cimento do Colégio e, olhando para o pátio, fiquei pensando em como ganhar dinheiro e me aposentar.

Os meus pensamentos foram cortados por uma briga, que aconteceu no meio de uma partida de futebol na aula de  Educação Física. Um cara magrelo apelou com um cara forte, não sei por que, e a briga começou. Briga não, massacre. Era como se o Aquaman quisesse brigar com o Hulk.

Aí foi aquilo que todo mundo que passou por um colégio até a década de 90 sabe: Chega a turma do deixa disso e o cara forte diz “Te pego lá fora”. Ou seja: era dia de almoçar mais tarde.

Nesse momento, uma amiga de turma chegou e me ofereceu brigadeiros que ela vendia pra poder ir a um show do Hanson no Rio de Janeiro. Após me tornar o feliz proprietário de dois brigadeiros, agradeci e continuei olhando para o pátio.

Enquanto A Menina dos Brigadeiros continuou vendendo seus docinhos, um colega de classe aproximou, com sete brigadeiros na mão.

- Fala aí, Guilherme.

- Beleza, Fabinho (nome fictício)?

- Cara, sou apaixonado por essa menina.

- Tô vendo, comprou sete brigadeiros.

- Pois é, tô querendo ajudá-la a viajar pro Rio.

Como todo adolescente (pequenos machistinhas), achávamos que o caminho para o coração de uma menina era ajudá-la a realizar algum sonho, já aguardando que ela fosse demonstrar a gratidão pelo auxílio com um beijo na boca de cinema e não com um “Nossa. Nem sei como te agradecer. Obrigada mesmo”.

- Legal. Acho que vai dar certo.

- Também. Tô juntando uma grana aí... Você sabe quanto custa uma passagem pro Rio, Guilherme?

- Não tenho a mínima ideia.
  
- Beleza, valeu.

Nesse momento chega meu amigo de fé, meu irmão, camarada, parceiro e fiel escudeiro das aventuras anteriores: Barata.

- Cara, marcaram a briga. Uma hora da tarde lá na (Rua) Cambuquira.

- Bacana demais, Barata.

- Pois é. Fabinho que vai gostar. Vai ter gente vendendo brigadeiro lá.

- Sério, Barata?

- Sério, Fabinho.

O menino ficou tão feliz, que saiu pra ligar pra mãe e avisar que não ia almoçar em casa. E aí uma ideia me veio à cabeça.

- Barata. E se a gente fizer banca de apostas nessa briga?

- Boa, Gui!

Já descemos das arquibancadas, arrancamos folhas do caderno e saímos buscando apostadores pelo pátio. Era um sistema simples. Ou apostava no Forte ou apostava no Fraco. Depois de recolher a grana, iríamos tirar 20% da taxa de corretagem (metade pra mim, metade pro Barata) e dividiríamos os 80% entre os vencedores.

Anunciamos a briga, confirmamos a Menina dos Brigadeiros, tentamos patrocínio com o Tio Baleiro da porta (em vão) e chegamos cedo.

Faltando 20 minutos pra começar a briga, o Forte ainda não tinha chegado, enquanto o Fraco estava sentado na calçada. Não sei se estava rezando ou tentando aprender algum feitiço de última hora, mas estava com um livro aberto nas mãos.

Eu queria muito estar com uma jaqueta de couro, chapéu, todo de preto, óculos escuros e cigarro no canto da boca em algum canto pegando apostas. Mas estava apenas de mochila nas costas e tentando não perder os óculos. 

Eu e Barata, na nossa imaginação.

Até que a Menina dos Brigadeiros chegou. Radiante.

- Oi, Gui.

- Oi! 

- Acho que consegui o dinheiro todo! \o/

- Pô, legal demais! Parabéns.

- Pois é. Nem acredito que vou ver o Hanson! \o/ Problema vai ser só trocar esse dinheiro todo. Olha a quantidade de moedas?

Eu aprendi no Poderoso Chefão que podemos fazer favores, pois podemos precisar de favores dessa mesma pessoa no futuro. Por isso chamei o Fabinho, cujo pai trabalhava em banco.

- Fala Guilherme!

- Opa! Fabinho, tenho certeza de que você poderá ajudar essa bela moça. Eu sei que parece que ela assaltou a cestinha da Igreja, mas ela só precisa trocar esse dinheiro aí. Seu pai trabalha em banco né?

- Sim.

- Pois é. Fala pra ele trocar pra ela.

- Claro que eu ajudo.

E a Menina dos Brigadeiros saiu com o Fabinho para resolver as questões burocráticas. Agora era hora de me concentrar nas apostas.

Forte e Fraco já estavam lá. Decidiram que o primeiro round duraria cinco minutos. Se o Fraco ainda estivesse vivo, haveria o segundo round. Caso ainda resistisse, chamaríamos o Guiness.

Meio dia e cinqüenta e sete. Tudo pronto.

Enquanto deixava a prancheta das apostas com o Barata, o Fabinho voltou.

- Puta que pariu, Guilherme, me ajuda.

- Que foi, Fabinho?

- Perdi o dinheiro da Menina dos Brigadeiros!


(continua...)



Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha

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