(Para ler a parte I, clique aqui)
- Porra, Fabinho!
- Velho, não sei o que faço. Me ajuda, Guilherme.
Eu não sabia o que fazer. De certa forma, até me sentia
culpado, pois se não tivesse tentado aproximar os dois, a Menina dos
Brigadeiros estaria com o dinheiro.
- Calma, cara. Já procurou direito?
- Já. Olhei na mochila, nos bolsos, em tudo! Perdi o dinheiro dela!
- Caralho, Fabinho!
Foi aí que o Barata chegou. Tava com a prancheta em mãos e
avisando que a porrada ia começar. Olhei a lista e trinta e três pessoas
apostaram no Forte. Ninguém no Fraco.
- Fabinho! Tive uma ideia, cara. Faz assim. Aposta no
Fraco e chama o Forte pra conversar. Fala pra ele que você tá desesperado e que
vai ganhar sozinho. Oferece, sei lá, uns cinqüenta reais pra ele perder a luta.
O resto da grana você ganha e já te ajuda a pagar pra Menina dos Brigadeiros.
- Será?
- Tenta lá, uai. Fala com o Forte.
Fabinho apostou no Fraco e foi negociar com o Forte. Os
dois conversaram, conversaram e não pareciam chegar a uma conclusão. Na pior
das hipóteses, haveria uma nova briga e pra mim seria até melhor, pois criaria
uma nova banca de apostas.
Sei que o Forte deu um empurrão no Fabinho e chamou o
Fraco pra porrada. Não sei se estava combinado algo, mas o Fraco não sabia de
nada.
Um tentou chutar o outro, socos no ar, empurrões e de
repente se embolaram enquanto a plateia gritava “Porrada! Porrada! Porrada!”
Começou a luta. |
Eu comecei a suar frio. Não sabia o que ia sair dali. Só
sei que quando eu menos assustei, o Forte deu um soco na orelha do Fraco que
voou pro chão.
Já estava esperando o Fraco levantar, como o Rocky Balboa
ou o Shiryu do Cavaleiros do Zodíaco, mas o cara ficou bambo.
Olhei pros lados e o Fabinho tinha sumido. A Menina dos
Brigadeiros estava radiante. Barata tava com a prancheta e fazendo contas de
divisão do dinheiro.
Aí o Fraco levantou. Na minha imaginação, o Fraco ficaria
sobre uma perna só, levantaria os braços e a outra perna e com a trilha sonora
“I’m the man, who will fight for your honor” ao fundo, daria o golpe do KarateKid.
Mas não foi assim. Ele levantou e, com os cotovelos
ralados e o cabelo desarrumado, apenas bateu as mãos no corpo para se limpar.
Parecia que não tinha acontecido nada.
O Forte foi com tanta vontade que não viu o Fraco fazendo
uma manchete com as mãos e acabou atingido no queixo.
A multidão (35 pessoas) foi ao delírio! O Forte caiu no
chão e o Fraco levantou as mãos. Não teve grito de “Adryyyyyaaaannnnn”, não
teve limpada de sangue no canto da boca e nem mordida na orelha. A luta tinha
acabado.
Eu sabia que ia sobrar pra mim e pro Barata, já imaginando
o boato de que havíamos fraudado a luta e seriamos trucidados. Passei a mão na
mochila, gritei o Barata e subimos a rua correndo. No caminho, o Fabinho descia
a rua, como se fosse pra luta.
- Corre Fabinho!
E ele foi seguindo a gente. Entramos numa corretora de
imóveis pra descansar e contar a grana. Enquanto eu tentava respirar, o Barata
contava da luta pro Fabinho.
Contamos a grana, tiramos a minha parte e a do Barata e
entregamos o resto do dinheiro pro Fabinho. Ele agradeceu e disse que havia
sumido para ligar pro pai. Contou que perdeu o dinheiro da Menina dos
Brigadeiros e que o pai daria metade do dinheiro perdido, descontando da mesada
dele. A outra metade ele teria que pedir pra mãe.
A sorte do Fabinho é que ele já estava juntando um
dinheiro pra ela. No fim das contas, ele juntaria o dinheiro do pai, o que
tinha guardado e o que tinha ganhado da aposta para Menina dos Brigadeiros.
Barata não acreditava.
- Fabinho, isso vai dar o dobro do que ela vendeu!
- Eu sei, Barata.
- Não é possível que você vai fazer isso!
- Vou, Barata! Já disse!
- Cara, tá passando Mortal Kombat no cinema.
Vamos torrar isso aí no fliperama, no Cinema e no McDonalds!
- Não, Barata. É pra ela.
Eu também não entendia, mas respeitava. Só queria saber
uma coisa.
- Fabinho, me conta aqui. Foi armada aquela luta lá?
- Não. Forte não aceitou e falou que se não desse a grana
toda, ele não perderia.
- Beleza. Bom, deu sorte então.
Despedimos dele e fomos embora.
No outro dia, o colégio só falava da briga. Fraco agora é
o cara a ser temido, enquanto o Forte espalhava que ele havia apanhado de
propósito, fazendo um favor pro Fabinho que havia pedido pra ele perder.
Algumas pessoas vieram pedir o dinheiro de volta, mas eu e
Barata mantínhamos o que foi feito. Não havia comprovação de que a luta foi
armada, até mesmo porque o Forte ameaçava pedir revanche, o que nunca
aconteceu.
Mas faltava algo. A Menina dos Brigadeiros deveria saber
do esforço do Fabinho.
Antes que eu falasse, o Fabinho a chamou pra conversar.
Entregou o envelope pra ela, apenas com notas de cinqüenta
reais. Ela estranhou o dinheiro a mais e ele explicou. De longe, eu via a
alegria e o orgulho dele de contar toda a empreitada.
Mas ela não gostou. Disse que ele era um idiota por ter
perdido o dinheiro, que havia perdido a confiança nele e que tinha sido burra
por pedir um favor à ele. Ainda falou que o dinheiro a mais era uma forma de
indenização.
Para piorar as coisas, ela ainda ficou com o Forte depois
da aula, e teria dito pra uma colega em comum que tinha ficado com dó dele por
ter apanhado e resolveu consolá-lo.
Vendo a tristeza do Fabinho, tive uma ideia:
- Barata, tô com dó do Fabinho. Vamos chamá-lo pra
assistir Mortal Kombat com a gente?
- Será que ele anima? Ouvi falar que o filme é ruim.
- Por mais que o filme seja ruim, podemos afogar as mágoas
depois no McDonald's. Quer apostar comigo que ele aceita?
- Aposto que ele não vai.
Vimos o filme e realmente era ruim. Gastamos dinheiro no Fliperama, depois fomos pro McDonalds e
voltamos pra casa. Eu e Fabinho rindo da cara do Barata, o único que não
ganhava apostas.
Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha
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