terça-feira, 7 de abril de 2015

A Menina dos Brigadeiros - Parte II


(Para ler a parte I, clique aqui)


- Porra, Fabinho!

- Velho, não sei o que faço. Me ajuda, Guilherme.


Eu não sabia o que fazer. De certa forma, até me sentia culpado, pois se não tivesse tentado aproximar os dois, a Menina dos Brigadeiros estaria com o dinheiro.


- Calma, cara. Já procurou direito?

- Já. Olhei na mochila, nos bolsos, em tudo! Perdi o dinheiro dela!

- Caralho, Fabinho!


Foi aí que o Barata chegou. Tava com a prancheta em mãos e avisando que a porrada ia começar. Olhei a lista e trinta e três pessoas apostaram no Forte. Ninguém no Fraco.


- Fabinho! Tive uma ideia, cara. Faz assim. Aposta no Fraco e chama o Forte pra conversar. Fala pra ele que você tá desesperado e que vai ganhar sozinho. Oferece, sei lá, uns cinqüenta reais pra ele perder a luta. O resto da grana você ganha e já te ajuda a pagar pra Menina dos Brigadeiros.

- Será?

- Tenta lá, uai. Fala com o Forte.


Fabinho apostou no Fraco e foi negociar com o Forte. Os dois conversaram, conversaram e não pareciam chegar a uma conclusão. Na pior das hipóteses, haveria uma nova briga e pra mim seria até melhor, pois criaria uma nova banca de apostas.

Sei que o Forte deu um empurrão no Fabinho e chamou o Fraco pra porrada. Não sei se estava combinado algo, mas o Fraco não sabia de nada.

Um tentou chutar o outro, socos no ar, empurrões e de repente se embolaram enquanto a plateia gritava “Porrada! Porrada! Porrada!”

Começou a luta.


Eu comecei a suar frio. Não sabia o que ia sair dali. Só sei que quando eu menos assustei, o Forte deu um soco na orelha do Fraco que voou pro chão.

Já estava esperando o Fraco levantar, como o Rocky Balboa ou o Shiryu do Cavaleiros do Zodíaco, mas o cara ficou bambo.

Olhei pros lados e o Fabinho tinha sumido. A Menina dos Brigadeiros estava radiante. Barata tava com a prancheta e fazendo contas de divisão do dinheiro.

Aí o Fraco levantou. Na minha imaginação, o Fraco ficaria sobre uma perna só, levantaria os braços e a outra perna e com a trilha sonora “I’m the man, who will fight for your honor” ao fundo, daria o golpe do KarateKid.

Mas não foi assim. Ele levantou e, com os cotovelos ralados e o cabelo desarrumado, apenas bateu as mãos no corpo para se limpar. Parecia que não tinha acontecido nada.

O Forte foi com tanta vontade que não viu o Fraco fazendo uma manchete com as mãos e acabou atingido no queixo.

A multidão (35 pessoas) foi ao delírio! O Forte caiu no chão e o Fraco levantou as mãos. Não teve grito de “Adryyyyyaaaannnnn”, não teve limpada de sangue no canto da boca e nem mordida na orelha. A luta tinha acabado.

Eu sabia que ia sobrar pra mim e pro Barata, já imaginando o boato de que havíamos fraudado a luta e seriamos trucidados. Passei a mão na mochila, gritei o Barata e subimos a rua correndo. No caminho, o Fabinho descia a rua, como se fosse pra luta.

- Corre Fabinho!

E ele foi seguindo a gente. Entramos numa corretora de imóveis pra descansar e contar a grana. Enquanto eu tentava respirar, o Barata contava da luta pro Fabinho.

Contamos a grana, tiramos a minha parte e a do Barata e entregamos o resto do dinheiro pro Fabinho. Ele agradeceu e disse que havia sumido para ligar pro pai. Contou que perdeu o dinheiro da Menina dos Brigadeiros e que o pai daria metade do dinheiro perdido, descontando da mesada dele. A outra metade ele teria que pedir pra mãe.

A sorte do Fabinho é que ele já estava juntando um dinheiro pra ela. No fim das contas, ele juntaria o dinheiro do pai, o que tinha guardado e o que tinha ganhado da aposta para Menina dos Brigadeiros. Barata não acreditava.

- Fabinho, isso vai dar o dobro do que ela vendeu!

- Eu sei, Barata.

- Não é possível que você vai fazer isso!

- Vou, Barata! Já disse!

- Cara, tá passando Mortal Kombat no cinema. Vamos torrar isso aí no fliperama, no Cinema e no McDonalds!

- Não, Barata. É pra ela.


Eu também não entendia, mas respeitava. Só queria saber uma coisa.


- Fabinho, me conta aqui. Foi armada aquela luta lá?

- Não. Forte não aceitou e falou que se não desse a grana toda, ele não perderia.

- Beleza. Bom, deu sorte então.


Despedimos dele e fomos embora.

No outro dia, o colégio só falava da briga. Fraco agora é o cara a ser temido, enquanto o Forte espalhava que ele havia apanhado de propósito, fazendo um favor pro Fabinho que havia pedido pra ele perder.

Algumas pessoas vieram pedir o dinheiro de volta, mas eu e Barata mantínhamos o que foi feito. Não havia comprovação de que a luta foi armada, até mesmo porque o Forte ameaçava pedir revanche, o que nunca aconteceu.

Mas faltava algo. A Menina dos Brigadeiros deveria saber do esforço do Fabinho.

Antes que eu falasse, o Fabinho a chamou pra conversar.

Entregou o envelope pra ela, apenas com notas de cinqüenta reais. Ela estranhou o dinheiro a mais e ele explicou. De longe, eu via a alegria e o orgulho dele de contar toda a empreitada.

Mas ela não gostou. Disse que ele era um idiota por ter perdido o dinheiro, que havia perdido a confiança nele e que tinha sido burra por pedir um favor à ele. Ainda falou que o dinheiro a mais era uma forma de indenização.

Para piorar as coisas, ela ainda ficou com o Forte depois da aula, e teria dito pra uma colega em comum que tinha ficado com dó dele por ter apanhado e resolveu consolá-lo.

Vendo a tristeza do Fabinho, tive uma ideia:

- Barata, tô com dó do Fabinho. Vamos chamá-lo pra assistir Mortal Kombat com a gente?

- Será que ele anima? Ouvi falar que o filme é ruim.

- Por mais que o filme seja ruim, podemos afogar as mágoas depois no McDonald's. Quer apostar comigo que ele aceita?

- Aposto que ele não vai.


Vimos o filme e realmente era ruim. Gastamos dinheiro no Fliperama, depois fomos pro McDonalds e voltamos pra casa. Eu e Fabinho rindo da cara do Barata, o único que não ganhava apostas.



Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha

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