Uma das coisas que
tenho mais preguiça nessa vida é ver as pessoas fazendo algo com má vontade.
Preguiça não.
Raiva. E ela vem com tanta força, que eu acho que fico verde, com três metros
de altura e com roupas rasgadas.
Graças a técnicas
de meditação, respiração e concentração que tenho praticado desde o ano
passado, hoje fico apenas nervoso, como o Marty McFly fica quando é chamado de
“covarde”.
E estava eu, um dia
desses, precisando que algo fosse feito e liguei para o responsável providenciar.
(Por motivos do Programa de Proteção às Testemunhas,
direitos autorais e para evitar que haja panelaço por parte dos envolvidos,
alterei os nomes, profissões, objetos e locais. Mantive apenas os fatos. Att. A
Direção).
Muito tempo atrás,
numa galáxia muito distante, os tripulantes da Estrela da Morte podiam usufruir
de todo e qualquer utensílio para a realização dos seus afazeres.
Porém, peças de
reposição desapareceram e não se conseguia controlar o estoque. Então, foi
criada uma norma intergaláctica, válida para todas as repartições espaciais,
que determinava que apenas as pessoas treinadas possuíam autorização para acessar,
mexer e consertar as ferramentas que utilizássemos, incluindo os sabres de luz.
Como não tínhamos acesso
às câmaras que protegiam os equipamentos de limpeza, manutenção e restauração
do que usávamos, não restava outra alternativa senão ligar pro responsável do
setor - o General. Grievous – iniciar os procedimentos...
- Oi Grievous. Darth GuiVader falando, beleza? Deixa eu te falar. Tava precisando que você trocasse o fluido do meu sabre de luz aqui. Você pode fazer a gentileza?
- Claro! Vou mandar
alguém aí.
Uma hora depois chega um Stormtrooper.
- Darth GuiVader?
- Opa!
- Ah, é pra trocar
ali oh, por favor.
- Tranquilo.
- Qualquer coisa
você me chama aqui.
- Tá.
Um minuto depois.
- Darth GuiVader?
- Fala aí.
- Cara,
eu até posso trocar o fluido, mas tem que limpar o medidor dele.
- Uai, beleza. Dá
pra limpar?
- Dá sim, já
limpei.
- Opa, valeu.
- Mas só por fora.
Não posso limpar por dentro.
- Como assim?
- Só o Grievous pode
limpar o medidor por dentro. Norma dele.
- Putz...
- Vou falar com
ele. Daqui dois minutinhos ele vem. Aí depois que ele limpar por dentro, eu
troco o fluido. Espera um pouco que ele já vem.
- Tá.
Dois milênios depois, meu telefone toca.
- Darth GuiVader?
- Oi.
- É o Grievous. E
aí, trocou o fluído?
- Ainda não! Tô te
esperando, pô!
- O Stormtrooper
não foi aí não?
- Veio, disse que
não podia limpar por dentro e que só você poderia fazer isso.
- Tem nada disso.
Ele precisa de uma luva especial pra isso. Única coisa é que essa luva é
regrada e ele tinha que vir pegar uma comigo.
- Pois é. Mas tô
esperando aqui.
- Irei aí com ele,
Lord Darth GuiVader.
- Fechado.
Dez minutos depois.
- Lord Darth
GuiVader?
- Opa. Trouxe o
Stormtrooper.
Stormtrooper com cara fechadíssima, sem qualquer
cerimônia, enfia o dedo por dentro do medidor e não usa luvas.
Eu nem me importo com isso, já que se pudesse eu mesmo
faria o serviço e sem luvas. Mas precisava daquilo limpo pra dar sequência ao
plano de conquistar o mundo.
Porém, Grievous se assusta (e se estressa) com o fato do
não uso das tais luvas especiais.
- As luvas - Grievous fala baixinho pro Stormtrooper.
- Não vou usar as luvas – Stormtrooper responde baixo pra Grievous.
- Por favor, use as
luvas. - Grievous fala pro Stormtrooper.
- NÃO VOU USAR A MERDA DA LUVA – Stormtrooper grita com Grievous.
Stormtrooper sai do ambiente batendo o pé no chão, com
clara demonstração de insatisfação e joga as luvas no chão.
Grievous olha pra parede, com clara demonstração de
insatisfação e encosta o braço, descansando a cabeça sobre ele. (Posição de
choro do Kiko no Chaves, Mode On).
Um princípio de raiva começa a dominar e sinto o lado
negro da força me chamando. Respiro, me coloco no lugar do Stormtrooper e olho
para aquela cena perplexo, constrangido pelos dois.
- Grievous?
- Pois não, Darth
GuiVader?
- Faz assim. Deixa
essa luva aí que eu mesmo limpo.
- Não posso. Isso é
função do Stormtrooper.
- Tá, então leve o
Sabre com você, limpe o medidor, troque o fluido e depois traga até mim quando
puder. Sem pressa.
- Desculpe, mas não
posso retirá-lo daqui. Se esse Stormtrooper não vier aqui e fizer isso, vou
mandá-lo embora.
- Não precisa de
tanto, Grievous. Tô te falando, sem pressa.
Antes que eu acabasse de falar, Grievous sai da sala e
volta um minuto depois com o mesmo Stormtrooper - com as luvas - que começa a
limpar o objeto por dentro, porém com a cara mais fechada ainda.
Ele tava com tanta raiva que quase quebrou o medidor. E
Grievous ficou até vermelho com o lado negro crescendo nele.
Fiquei com medo de a pessoa cuspir no meu sabre de luz de
tanta raiva que ela tava. Mas, aparentemente, fez tudo certinho.
Acabou o serviço, agradeci várias vezes. Mas o
Stormtrooper nem olhava na minha cara. Grievous me pediu desculpas várias
vezes.
As pessoas que estavam comigo no ambiente (também
assustadas) começaram a acalmar e relaxar depois de todo o stress –
desnecessário – que havia se instaurado ali.
E quando tudo finalmente parecia acabar e o clima
melhorar, o Imperador Palpatine (meu superior) entra na sala, olha pro
Grievous, pro Stormtrooper pra mim e diz:
- E aí gente? Tudo
bem? Ô Grievous, que bom que você tá aqui! Aproveitando sua presença, será que
você podia providenciar a limpeza do sabre de luz? Ele tá imundo!
Nesse exato momento todos se entreolharam e não sabíamos o
que fazer.
Grievous abaixou a cabeça e eu comecei a rir. Todos
começaram a rir, aliás, menos o Stormtrooper (que saiu do ambiente) e o
Imperador (que não entendia nada)
Contamos a história e o Imperador achou até engraçado. Já
o Stormtrooper nunca mais foi visto.
E o Sabre ficou limpo. Ainda bem que sem cuspe.
Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha
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