terça-feira, 10 de março de 2015

O Casal e a Chuva


Quem me conhece, pessoalmente, sabe que eu ano à pé pela cidade, com fones no ouvido e mo...

Ops.

Já escrevi isso. Vou começar de novo.

Quem me conhece, pessoalmente, sabe que eu ando à pé pela cidade, com fones no ouvido e mochila, mas também ando de ônibus.

Aliás, não abro mão de usar ônibus. Mas justifico: dou sorte que esse meio de transporte é bem diversificado na região onde moro. Lá passam várias linhas e algumas, até, com ponto final próximos.

Além disso, uso em horários nem tão cheios assim – geralmente após às 17h – quando volto pra casa e quase sempre tem lugares vazios, o que me permite usar a viagem de volta como o horário conhecido por mim como “a hora do cochilo”.

Mas não foi o caso ontem.

Eu estava fora do meu horário padrão, distante do ponto em que costumo usar e com o número de linhas disponíveis bem reduzidos, já prevendo que não conseguiria dormir no ônibus.

Talvez isso justificasse, um pouco, o mau humor em que estava. Pra piorar, começou a chuviscar.

Corri para aquelas proteções que existem nos pontos de ônibus para me abrigar da chuva e todos se apertavam. Menos um casal.

Aliás, um casal não. O Casal.

Estavam próximos, mas nem pareciam perceber que estava chovendo. Na hora deduzi: Começo de namoro.

Até porque a gente sabe como funciona né? Ficavam abraçados o tempo todo, com as mãos entrelaçadas e trocavam olhares e sorrisos apaixonados.

Aí se olhavam em silêncio, davam selinhos, se abraçavam e reclinavam a cabeça no ombro do outro.

Isso sem falar, claro, nas brincadeiras que, mais que os beijos, são o que constroem um casal: bobagens, piadas internas, tapas carinhosos entre risadas.

Exalavam felicidade a cada abraço. A cada beijo. A cada olhar. E demonstravam que não eram duas pessoas ali. Eram uma pessoa só.

Porém a chuva “esforçou” como diz minha mãe. Ou “apertou” como diz meu pai. E de repente, perceberam que estava chovendo e foram procurar abrigo, mas o espaço que me protegia da chuva já estava ocupado em todos os lugares.

Então eles foram para perto de uma árvore, e se protegeram da chuva lá. Sem soltar as mãos, ficaram em silêncio, talvez até assustados, mas deixando transparecer que um dava sensação de segurança para o outro.

Estavam assim.

Meu ônibus chegou. Dei o sinal, embarquei e vi que eles iriam se separar ali.

Da roleta do ônibus, vi as mãos se soltarem e um último beijo entre eles. Um pouco apressado, mas bem carinhoso.

Sentei, encostei a cabeça na janela - preparando pra dormir - mas continuei olhando para aquele casal, agora, separado.

O rapaz que entrou no ônibus, sentou na cadeira da frente e foi para a janela despedir do seu amor.

Já o rapaz que ficou no ponto, acenou despedindo, atravessou a rua e correu para dentro de um prédio.

E o ônibus arrancou.

Neste momento, o rapaz na minha frente encostou a cabeça na janela, não sei se estava com os olhos fechados, mas certamente aparentava sonhar com seu namorado.

Pensando na minha namorada, fechei os olhos e cochilei.

Torcendo para que todos sejam felizes.



Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha

Um comentário:

  1. Mto massa Gui! Bela crônica como sempre, lembrando que é diferente de nós ou aparentemente diferente, não merece menos que respeito. Show de bola!

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