Quem me conhece, pessoalmente, sabe que eu ano à pé pela
cidade, com fones no ouvido e mo...
Ops.
Já escrevi isso. Vou começar de novo.
Quem me conhece, pessoalmente, sabe que eu ando à pé pela
cidade, com fones no ouvido e mochila, mas também ando de ônibus.
Aliás, não abro mão de usar ônibus. Mas justifico: dou
sorte que esse meio de transporte é bem diversificado na região onde moro. Lá
passam várias linhas e algumas, até, com ponto final próximos.
Além disso, uso em horários nem tão cheios assim –
geralmente após às 17h – quando volto pra casa e quase sempre tem lugares
vazios, o que me permite usar a viagem de volta como o horário conhecido por
mim como “a hora do cochilo”.
Mas não foi o caso ontem.
Eu estava fora do meu horário padrão, distante do ponto em
que costumo usar e com o número de linhas disponíveis bem reduzidos, já
prevendo que não conseguiria dormir no ônibus.
Talvez isso justificasse, um pouco, o mau humor em que
estava. Pra piorar, começou a chuviscar.
Corri para aquelas proteções que existem nos
pontos de ônibus para me abrigar da chuva e todos se apertavam. Menos um casal.
Aliás, um casal não. O Casal.
Estavam próximos, mas nem pareciam perceber
que estava chovendo. Na hora deduzi: Começo de namoro.
Até porque a gente sabe como funciona né?
Ficavam abraçados o tempo todo, com as mãos entrelaçadas e trocavam olhares e
sorrisos apaixonados.
Aí se olhavam em silêncio, davam selinhos, se abraçavam e reclinavam a cabeça no ombro do outro.
Isso sem falar, claro, nas brincadeiras que, mais que os
beijos, são o que constroem um casal: bobagens, piadas internas, tapas
carinhosos entre risadas.
Exalavam felicidade a cada abraço. A cada beijo. A cada olhar. E demonstravam
que não eram duas pessoas ali. Eram uma pessoa só.
Porém a chuva “esforçou” como diz minha mãe.
Ou “apertou” como diz meu pai. E de repente, perceberam que estava chovendo e
foram procurar abrigo, mas o espaço que me protegia da chuva já estava ocupado
em todos os lugares.
Então eles foram para perto de uma árvore, e
se protegeram da chuva lá. Sem soltar as mãos, ficaram em silêncio, talvez até
assustados, mas deixando transparecer que um dava sensação de segurança para o
outro.
Estavam assim. |
Meu ônibus chegou. Dei o sinal, embarquei e vi que eles iriam se separar ali.
Da roleta do ônibus, vi as mãos se soltarem e
um último beijo entre eles. Um pouco apressado, mas bem carinhoso.
Sentei, encostei a cabeça na janela -
preparando pra dormir - mas continuei olhando para aquele casal, agora,
separado.
O rapaz que entrou no ônibus, sentou na
cadeira da frente e foi para a janela despedir do seu amor.
Já o rapaz que ficou no ponto, acenou
despedindo, atravessou a rua e correu para dentro de um prédio.
E o ônibus arrancou.
Neste momento, o rapaz na minha frente encostou
a cabeça na janela, não sei se estava com os olhos fechados, mas certamente
aparentava sonhar com seu namorado.
Pensando na minha namorada, fechei os olhos e
cochilei.
Torcendo para que todos sejam felizes.
Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha
Mto massa Gui! Bela crônica como sempre, lembrando que é diferente de nós ou aparentemente diferente, não merece menos que respeito. Show de bola!
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