terça-feira, 13 de maio de 2014

A Dama e o Vagabundo

Era um cachorro comum, desses que se vê em qualquer lugar da cidade.

Não tinha o porte de um Pastor Alemão, não tinha olhos claros como um Husky, não era forte como um Doberman, nem atraente como um Labrador. Talvez não fosse Boa Pinta como um Dálmata, mas pelo menos era mais alto que um Bulldog, tinha a voz mais grossa do que um Chiuaua e era mais calmo que um Rotweiller. Pensando agora, talvez fosse um vira-latas.

O que importava, para ele, era viver a vida bem.

Envolveu-se com muitas cachorras, algumas com pedigree e outras vira-latas, mas não achava aquela que fazia o seu pelo arrepiar. Em momentos ruins da sua vida, arriscava-se com piranhas e em pouquíssimas oportunidades, desfilava com gatas. Mas nada dava certo. Até que se envolveu com uma lebre.

Tudo ia bem até que as coisas tomaram rumos diferentes. A lebre tentava acelerar as coisas, mas ele não conseguia acompanhar, afinal, era um cachorro mais velho e a idade visível pelos pelos brancos diminuía sua agilidade. Além disso, por um problema que havia tido nos joelhos e por marcas que haviam na sua pata direita, o ritmo canino dele era inferior aos demais e isso irritava a lebre.

Ela até tentou esperar, diminuiu o ritmo, mas o cachorro insistia em não acompanhar. Não por sua vontade própria, mas simplesmente não conseguia.

A Lebre queria uma toca e insistia para que ele saísse da casinha que vivia desde filhote. Ele, em ritmo lento, permanecia onde estava.

Mas a Lebre não agüentou. Ela não podia esperar mais e a paciência com a lentidão do cão chegou ao fim.

O cachorro, abandonado novamente, tentou seguir sua vida. Alguns amigos dele insistiam em dizer que a Lebre estava certa e que ele precisava agilizar a sua vida.

Por vezes, refletiou sobre o ritmo da vida. Era ele que era lento demais ou os outros que estavam indo rápido demais? Nunca sabia a resposta e por várias vezes, achou que estava errado.

E logo após voltar as atenções para o lado espiritual e tornar-se devoto de São Bernardo, começou a prestar atenção em uma tartaruga.

Era mais velha que ele, mas isso não era problema, pois a idade trazia sabedoria. Além disso, já possuía uma casa e o seu ritmo de vida combinava com o dele.

Os amigos de ambos achavam que tudo era lento demais, mas não percebiam que aquele era o ritmo ideal para o casal. E nesse ritmo, acabaram se envolvendo. 



Ele achava o máximo uma marca que ela trazia no casco. Ela gostava da marca que ele trazia na pata. E ambos começaram a viver a vida no ritmo deles.

No ritmo ideal. Para ele, poderia parecer ser lento, mas com ela, era tudo no tempo certo, na hora certa. Para ela, poderia ser um pouco rápido demais, mas com ele, era a hora certa, no tempo certo.  

Ela se sentia leve e nas nuvens, como uma borboleta. Ele se sentia realizado e de crista alta, como um galo.

E descobriram que a felicidade existe.

Na hora e no ritmo certos.


Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha

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