Ele não
gostava de Copa.
Não, não
era da Copa no Brasil, pois não importava se era na Grécia, na Conchinchina ou
aqui. Ele não gostava. Nunca gostou.
Tudo bem
que era novo... E essa seria sua primeira Copa como torcedor adulto, já que
tinha 12 anos na última, mas nada o empolgava. Sua mãe e sua irmã mais velha
tentaram incentivá-lo. Seus amigos o convidaram para o bar e até sua vizinha
tentou arrastá-lo para a rua, mas nada parecia motivá-lo a acompanhar a
competição.
Podia
até ser teimosia, ou uma simples rebeldia da idade, mas o fato é que ele não
estava nem aí para nada. Até o pai foi tentar conversar com ele.
Os dois
tinham uma relação mediana. Se amavam, apesar de torcerem para clubes
diferentes. Se entendiam, apesar de estilos de música e de cinema diferentes.
- Filho,
não quer ver o jogo comigo?
- Não
gosto de Copas, pai. Você sabe disso.
- Sei,
mas nunca entendi.
- Nunca
vi razão nisso.
- É a
confraternização dos povos, filho. Veja como torcedores convivem em paz. Argentinos e
brasileiros convivendo felizes, as pessoas se unem para pintar a rua e fazer
festa. Já te contei que o Pelé, uma vez, par..
- Parou
uma guerra. Já sei. Mas não gosto.
- Eu sei
que você não gosta filho. Só não entendo porque.
- Nunca
vi muita graça nisso, nunca vi essa alegria toda.
E então,
a ficha caiu para o pai. A palavra chave era alegria.
- Filho,
deixa eu te contar uma história. A vida é feita de momentos de alegria e de
tristeza e a Copa é assim. Ela serve para podermos contar a história de nossas
vidas, mostramos como as situações mudam e como vivemos momentos de altos e
baixos. Quando tinha sua idade, estava empolgado com a nossa seleção de 82. Era
linda, mágica e fazia o país parar, ainda mais porque estávamos saindo da época
da ditadura. Mas ela perdeu. Meu coração sangrou de dor e saí do bar tremendo
de raiva. Quando cheguei no ponto de ônibus, não resisti e chorei. Chorei
compulsivamente e uma moça veio me abraçar e dizer que nada estava perdido.
Essa moça era sua mãe. Nos apaixonamos logo depois e começamos a namorar. Em
1986, estávamos namorando, apaixonados, empregados e felizes. Mas três dias
antes do Zico perder o Pênalti, seu avô faleceu. E ali achei que seria a maior
dor da minha vida. Em 1990, o Brasil perdeu pra Argentina! Argentina! Mas me casei
com sua mãe dois meses depois e achei que seria a maior alegria da minha vida!
E como foi bom. Tão bom quanto ganhar a Copa de 94. Mas a maior alegria da
minha vida viria na Copa seguinte, quando você nasceu. E olha que perdemos pra
França na final. Sei que talvez você guarde um sentimento ruim dentro de você
porque me separei da sua mãe em 2010, mas aproveite esse mês para fazer sua
vida mudar.
O filho
permaneceu calado. Talvez estivesse com o olho marejado, mas sentiu o conselho
do pai.
- Filho,
não se torture com nada. Aproveite a Copa. Durante um mês, de quatro em quatro
anos, nós mudamos. Afastamos nossos heróis tão distantes como o Batman, o John
Lennon e o Indiana Jones para ver aqueles seres humanos correrem por nós.
Deixamos de ouvir os Stones, de assistir ao Clint Eastwood e de discutir com
quem torce para clubes diferentes, apenas para acompanharmos jogos de futebol
que nos marcarão para sempre. Tenho certeza que você se lembrará daqui a 20
anos do que estava fazendo na final dessa Copa! Vai por mim!
- Tá
bom, pai...
- Ah! E
lembre-se. Sua última Copa pode ter sido ruim pra você de alguma forma. Mas a
próxima pode ser boa. Essa é na sua casa ainda! Aproveite a oportunidade que
tem e se divirta. Tome. Pegue esse dinheiro e vá encontrar com seus amigos.
E ele
foi. Não queria reconhecer, mas algo tinha mudado nele.
Ligou
para seus amigos e foi encontrar com eles.
Conversou
com alemães, ingleses, colombianos e até com iranianos. Fez amigos japoneses,
russos e chilenos.
Mas foi
aquela morena que sorriu pra ele no primeiro gol, e o abraçou no segundo, que
fez a diferença.
Enfim,
começou. Ia ter Copa.
Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha
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