terça-feira, 1 de julho de 2014

Meia Noite Quase em Paris


Sexta-feira. Cinco dias trabalhando direto sem ver a namorada, sem beber cerveja, sem descansar e relaxar. Após o expediente laboral era só encontrar com a amada, relaxar e esperar o sábado correto?

Pois é. Pensei isso também. Mas vocês já sabem que certas coisas só acontecem comigo, né? E pro azar da namorada, agora vai acontecer conosco.

Saímos da casa dela com o intuito de comer uma pizza e voltar logo, pra descansar. Mas esquecemos (ou menosprezamos, sei lá) que ia ter jogo da Copa aqui no dia seguinte.

Fomos a uma pizzaria que conhecemos e estava lotada. Tentamos outra, mas também tinha fila de espera maior que a do INPS. Demos uma volta pelo bairro e nada de interessante.

Achamos melhor nos afastarmos um pouco da região, meio a esmo, tentando lembrar um lugar específico. Até que a Namorada deu uma sugestão.

- Ah! Vamos naquele restaurante onde almocei um dia desses. Lá é bacana e não achei caro. Que tal?

Aceitei e rumamos pra lá. Meu sentido de aranha já mandou uma mensagem do tipo: “Melhor não!”

Claro que não ouvi. Na entrada do restaurante, esse aviso começou a ser emitido em volume acima dos decibéis permitidos no Código de Posturas. E veio legendado com letras garrafais, em caixa alta, com luz de neon e uma tradutora na linguagem de libras dizendo: "É UMA CILADA BINO!!!!” Mas não dei ouvidos.

Aliás, escrevendo agora, percebo que esse aviso surgiu quando avistei, nas mesas, homens com gel no cabelo, camisa social e pulôveres por cima, apenas com as golas pra fora. E mulheres com vestidos, jóias, pulseiras e bolsas que dariam para comprar um apartamento de 2 quartos, ou 1 ingresso de semi-final da Copa no mercado paralelo.

Mas não dei bola e fomos sentar. Nem preciso dizer que na mesa tinha mais garfos, facas e taças disponíveis, por pessoa, do que na casa da minha avó no natal, né? Pois é.

Enquanto olhava para aquele origami que alguém fez com o guardanapo, cujo pano dá vontade de repousar a cabeça de tão macio que era – e de imaginar que o restaurante devia ter um Sommelier de Origami de guardanapos - fui interrompido pelo garçom que gentilmente nos ofereceu bebidas e nos mostrou a carta de vinhos.

Fiquei indeciso ao ver “Vinho x ----------- 212” no cardápio e achei que era uma codificação, mas minha digníssima me explicou que era o preço já. Por glória divina, ela escolheu um suco de laranja mesmo. Obviamente, para não errar, escolhi cerveja.

Pedimos o cardápio de comida... E foi mais fácil porque já sabia que os números eram preços, e não uma codificação. Era só pedir né?

Acontece que eu não sabia nem do que se tratavam alguns pratos. Alguns eram impossíveis pra mim – não sei o que é ossobuco – outros eram mais fáceis. Mas complicados demais para saber se o prato viria certo. Do que adianta falar “Peixe do dia refogado em azeite balsâmico com grãos de hortelã e manjericão acompanhado de salada sicililiana campestre e batatas rústicas embanhadas em conserva de rabanete e orégano” se só verei peixe e folhas verdes no prato?

Escolhi um Bife de Chorizo com batatas rústicas e ela escolheu um Spaghetti com Molho Oriental e outras 'cositas más' que não lembro agora.

Pedimos um Carpaccio de entrada e seguimos o papo - mesmo sussurrando devido ao silêncio do restaurante – e eis que chega o jantar.

Dois garçons, cada um com um prato na mão e com aquelas tampas de bandeja que só vi em desenho animado.


Uma Bandeja assim 

Mas aí você deve estar se perguntando: “Ok, já sei que você é pobre. Mas o que raios aconteceu?” Bom. Até aí tava tudo bem.

Foi só quando acabamos de jantar que descobrimos que o pedido dela estava errado. Na verdade, não foi servido Spaghetti com Molho Oriental e sim um com Molho Pomodoro. Não que estivesse ruim, mas o engraçado foi que o garçom nos comunicou sem que houvéssemos reclamado.

Gentilmente, nos disse que foi feito uma confusão na cozinha e que muitos clientes pedem para fazer uma substituição no molho e que o chef fez o prato erronamente. Como forma de pedir desculpas, nos ofereceu uma sobremesa por conta da casa.

Agradecemos a cortesia e pedimos um “Profiteroles com Dulce de Leche”.

Começamos então a ouvir uma moça, que estava no caixa, questionando por que a sobremesa era por conta da casa. O garçom a respondia educadamente, mas a mulher devia estar com fones de ouvido na orelha, e ouvindo Gun’s Roses, porque ela falava em um tom de voz compatível com os aviso de “É Cilada Bino” que ouvi mais cedo.

Ficamos um tanto constrangidos, mas a culpa não era nossa né?

Prosseguimos sussurrando um para o outro, até que o garçom trouxe nossa sobremesa e nos tornamos felizes proprietários de um Profiteroles com... Chocolate.

Percebi o erro, mas fiquei sem graça de reclamar, ainda mais porque a mulher do caixa iria quebrar as taças de Cristal do local de tanto que gritaria, e porque o garçom era simpático.

Tão simpático que nos desejou “Bom Apetite” e derrubou a minha garrafa e meu copo de cerveja no chão do restaurante.

Obviamente, aquela cena tradicional se repetiu. Pessoas pararam de conversar para olhar, o barman parou de enxugar os copos, o pianista parou de tocar a Nona sinfonia de Beethoven, as moças pararam de dançar Can-can e até a moça do caixa deve até ter tirado os fones do ouvido.

Milhares de novos pedidos de desculpa vieram e, logicamente, foram aceitos porque, obviamente, não foi um ato proposital do garçom.

Só que ele ficou constrangido e foi buscar uma nova cerveja. Eu nem queria mais, mas ele trouxe a garrafa sob o olhar fulminante da moça do caixa. E eu não iria fazer essa desfeita com ele.

Bebi a cerveja, comemos a sobremesa e pedimos a conta, rezando para que a maquina do cartão não pegasse fogo ou explodisse.

Por mais que os pedidos tenham sido trocados – duas vezes – ainda não decidi se tive sorte ou azar... Já que, no fim das contas, ganhamos uma sobremesa e uma cerveja.

Na hora de despedir, o garçom pediu desculpas novamente.

Apenas sorri para ele e disse:


- Esquenta a cabeça não, amigo. A culpa não é sua. São essas coisas que só acontecem comigo.



Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha

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