terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Etevaldo

Dia desses, eu estava acompanhando esses portais de noticias quando me deparei com a noticia de que estavam sendo divulgadas fotos de 1947 de um extraterrestre que teria sido encontrado nos EUA.

Acho interessante que em todos os casos em que há possíveis extraterrestres envolvidos, esses sempre são encontrados no território norte americano. Nunca na África, na Ásia ou na Antártida.

Se eu fosse um ET, talvez fosse pra Índia ou pra China e investigaria como que um terço da população mundial habita naqueles dois países. Ou quem sabe fosse pro Japão pra entender porque os seus habitantes tem olhos puxados mas os seus desenhos animados possuem olhos quase do tamanho da cabeça.

Eu sei que se fosse esse ET não viria pro Brasil. 

Já imaginaram como seria?

Enquanto a nave não pousasse, o Márcio Canuto iria entrevistar pessoas na rua em volta do local da aterrissagem, questionando a expectativa da 1ª visita de um ET no Brasil. Ao mesmo tempo, helicópteros sobrevoariam a cidade para informações do trânsito e uma repórter entrevistaria um especialista sobre segurança pública no estúdio.

Assim que a Nave pousasse e aquela criatura de 1 metro e meio de altura, quatro dedos nas mãos e nos pés, corpo magro e verde e quatro olhos azuis do tamanho de uma melancia aparecesse entre a fumaça branca, uma escola de samba tocaria e algumas mulatas dançariam em frente à porta principal. A Globo, por meio de links, apresentaria o Olodum na Bahia e a festa do Boi Bumbá no Norte para mostrar a receptividade do povo brasileiro. 

Wiliam Bonner diria que crianças chamavam o alienígena de Etevaldo e o nome se espalharia como rastilho de pólvora. Um marketeiro diria à ele que era um ótimo nome artístico e registraria a patente.

Nos dias seguintes, pipocariam imagens de “Etevaldo é visto tomando sorvete em Copacabana”, “Etevaldo é visto em Padaria na Av. Paulista”, “Etevaldo curte Pelourinho com Olodum” e etc.

Nas bancas de revistas, todas as capas eram dele. Na Veja: “Eles sabiam – PT sabia de invasão intergaláctica e instala regime Marte-Cubano no País”; Carta Capital: “ET Brasileiro elogia Governo Federal”; Nova: “Como emagrecer 45 KG em 10 dias e ficar com físico do ET Brasileiro”; Marie Claire: “Cor de Pele verde do ET Brasileiro é tendência pro inverno”; Caras: “Invadimos a Nave do ET Brasileiro e mostramos o luxo espacial”.

Na Record, alguns programas falariam que o ET, na verdade, é o capeta disfarçado. Em outros, acharia que era tudo armação da Globo. A Rede TV entrevistaria uma criança que tentou acesso ao ET e não conseguiu, além de mostrar uma família humilde dizendo ser parentes do ET da dupla “ET&Rodolfo” e que não recebem auxilio de ninguém.

Indo jogar bola
No SBT, programas do Ratinho e do Raul Gil promoveriam um concurso de calouros pra ver quem era o melhor imitador do Etevaldo. Silvio Santos inventaria joguinhos do estilo “Um, dois, três, ET, quatro, cinco, seis, ET...”. Na Band, o Datena desconfiaria e mandaria descer a porrada no ET pra ele voltar pro planetinha dele e o Pânico na TV colocaria o Impostor para tentar enganá-lo.

A CNN e a NASA tentariam acesso ao ET, mas a agenda dele estaria lotada de compromissos como entrevista pro Jô Soares, depoimento pra Ana Maria Braga e apresentação do “Criança Esperança” ao lado do Renato Aragão. Glenda Kozlowsky tentaria descobrir um esporte praticado por eles, mas em vão.

Camisetas, bonecos e outros apetrechos com a imagem do ET entrarariam em disputas judiciais sobre quem tem a patente. Fãs de Star Trek e Star Wars passariam horas discutindo na Globo News sobre qual franquia representou a raça do alienígena nos cinemas e discutiriam um nome melhor para Etevaldo.

Em uma entrevista exclusiva pro Fantástico, Etevaldo revelaria que fugiu do planeta dele após ser abusado sexualmente quando criança, cerca de 1300 anos antes, e que achou que o Brasil seria um bom lugar pra se esconder. Por fim, ele falaria que veio em paz e ama o país.

Um burburinho no Facebook se inicia com pessoas afirmando que falar em “paz”, “amor ao Brasil” é papo de comunista e que tem dedo do PT no meio.

Por conta do discurso pacifista, o Senado americano acharia que ele tem raízes hippies e ligação com as drogas e elevaria o valor do Dólar no mercado, causando queda da bolsa e uma crise econômica.

A Veja afirmaria que desde o começo sabia da ligação do ET com o comunismo, que ele tem quatro dedos por ligação com o Lula e culparia a criatura pela crise econômica. Com a Marcha pela Família Terráquea nas avenidas das capitais brasileiras, a Globo seria obrigada a cobrir os eventos e a imagem do alienígena seria desgastada. 

Seria aberta uma CPI no Congresso para investigar a ligação do ET e um suposto esquema Intergaláctico para instauração de um Império na Terra e, mesmo com o pequeno extraterrestre dizendo que não sabia do que se tratava, Aécio Neves diria que ele era leviano e pediria sua extradição. 

Não haveria solução e o alienígena sumiria do noticiário global por uns três meses.

Assim, o ET começaria a cair no esquecimento e começaria a fazer visitas no interior do Mato Grosso, Goiás, Acre e Roraima até ser descoberto pela Rede TV no interior do Amapá, onde morava em uma cabana com uma fã do Calypso.

Derrotado nas eleições pra vereador em Piragi do Oeste, seria entrevistado pela Luciana Gimenez após ser flagrado comendo bateria de barco e seria ridicularizado pelos telespectadores, razão pela qual sairia do país e tentaria a vida no Paraguai.

Seria relembrado apenas quando morresse, mas apenas até a Missa de 7º Dia.


Acho que é melhor ele ir pros EUA mesmo. Pelo menos sairia um filme com sua história. 



Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha

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