Desde que terminei um relacionamento, vários amigos, amigas dos amigos e, principalmente, alguns membros femininos da minha família (leia-se mãe, irmã, tias e primas) têm batido na tecla de que “você está ficando velho e precisa arranjar uma namorada logo” com uma insistência que o Dalai Lama teria um acesso de fúria.
O mais interessante disso é que
ninguém me pergunta nada. Ninguém quer saber se eu já tenho outra pessoa, se
quero ser solteiro convicto pro resto da vida, se quero voltar pra ex, se fiz
voto de castidade e vou virar padre ou até mesmo monge budista. Simplesmente
ficam repetindo esse mantra como se fosse uma verdade absoluta.
E pra piorar, existe a figura das
pessoas que querem juntar você com alguém e armam um encontro. Aliás, um
encontro não. Um encontro arranjado.
Tenho certeza de que se consultarem
os alfarrábios biográficos do Freud, do Caio Fernando Abreu ou do cantor Fábio
Júnior – pessoas que mais entendem de relacionamentos – todos eles dirão em
alguma página, frase ou nota de rodapé que encontros combinados não dão certo.
E que o primeiro encontro combinado é sinônimo de tragédia, tai Adão e Eva que
não me deixa mentir.
E primeiro encontro é aquela coisa. Gera uma expectativa danada pra todo
mundo e pode gerar qualquer coisa, desde um encontro sem resultar em nada ou um
casamento, um namoro, uma troca de beijos morna ou até uma noite de sexo após
beber duas garrafas de vinho e acordar ao lado da outra pessoa e ficar tão sem
graça que não vai ter coragem de ligar e sim mandar apenas um whatsapp
perguntando se tá tudo bem e obter como resposta um “Eitaaa. Tudo” e depois
soltar um “então, você sabe o que eu fiz com meu crachá? Não sei onde coloquei
e mandar um email pro RH da empresa solicitando um novo não será legal”.
É essa expectativa que atrapalha todo mundo, inclusive as cobaias
vitimas desse encontro arranjado. O que poderia resultar em “E foi assim que
conheci sua mãe, filho, a mulher da minha vida” pode resultar em “E foi assim
que acabei a noite numa delegacia, depois de ser assaltado e ter que dar
explicações pro delegado que aquilo que estava no bolso dele(a) não era meu”.
Quem me conhece (ou ao menos já leu alguns textos meus) sabe que não sou
o tipo de pessoas que tem know-how para dar opiniões, dicas ou qualquer coisa
do tipo sobre relacionamentos. Sempre fui uma pessoa tímida (e quem me conhece
não adianta falar an-rããã), nunca tive muito sucesso com conquistas – tanto é
que acabei blogueiro – e acho que existem, no mínimo, 6 bilhões de pessoas que
dominam mais o assunto do que eu, mas o fato é que sempre achei que deixar as
coisas acontecerem sempre foi o caminho mais certo.
Aliás, são duas coisas que fazem parte desse caminho certo: Deixar as
coisas acontecerem e ser quase-você mesmo nestes casos.
Sim, você leu certo. Quase-você mesmo. Não que eu seja falso do tipo que
fala que sou alto, loiro, atlético (isso sou mesmo, Aqui é Galo Porra!) e tenho
olhos verdes, não é isso. Mas não dá pra ser eu mesmo, por completo, nos
primeiros encontros.
Tipo, algumas características são essenciais, como o fato de eu gostar
de Beatles (já perceberam?), ser atleticano, ter barba falhada e citar meu
blog. Não tem jeito de fingir nada disso e são o tipo de coisa que se conta na
primeira conversa.
Mas faz sentido eu ser eu mesmo e contar que sou fã de quadrinhos do
tipo saber de cor o juramento dos Lanternas Verdes, saber o nome de 14 clones
diferentes do Homem-Aranha ou explicar que existe um Robin que virou Asa
Noturna e que virou Batman quando o Bruce Wayne estava paraplégico? Ou falar
que sei falas do Rei Leão de cor, que fui as premieres da trilogia do Senhor
dos Anéis e que li e assisti a Octologia do Harry Potter e falo “Wingardium Leviosa” enquanto seguro um
lápis apontando pra um objeto qualquer, tentando levitá-lo? Falar que assisto
até hoje Cavaleiros do Zodíaco quando vejo passando ou que faço coleção de
tampinhas? Não dá pra ser tão transparente e contar essas coisas assim de cara.
Então, Amor, este é o quarto que vou fazer pra mim... |
Claro que é importante ser você mesmo, até porque falsidade ideológica é
crime, mas também é legal levar em conta que não é uma boa ideia se expor
demais. Sei que com o tempo, as coisas caminham e a tendência é a minha futura
esposa saber dessas coisas (talvez quando nosso filho entrar na faculdade eu
conto).
Outra coisa que me irrita nessa ansiedade toda é que pode causar na
outra pessoa que está indo pro tal encontro arranjado. Uma vez, um amigo marcou
um encontro com uma menina que ele estava de olho há um bom tempo. Mas esse
cara só faltou mudar o status no Facebook para “Feliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiz =]
=] =]”, e ficou repetindo que ela era tão linda, simpática, gente boa,
perfeita, divertida, inteligente e que era a mulher da vida dele. Eu tinha
tanta certeza de que esse cara iria se arrumar umas 4 horas antes do encontro
com a menina, e que durante o banho já pensava onde ia comemorar o aniversário
de 2 anos de namoro e se o salário que ele ganhava daria para pagar prestações
de uma lua-de-mel na República Dominicana, que eu tive que perguntar:
- Você não vai repetir esses elogios pra ela não, né?
- Cara, mulher gosta de ser elogiada.
- Eu sei, parceiro, mas dizer que ela é linda uma vez é legal. Três é
meio exagerado. Mas dizer quinze vezes que ela é linda, perfeita e etc é no
mínimo um indício de que você é um maníaco que vai roubar o rim dela e deixá-la
numa banheira de gelo.
Obviamente, ele me xingou todo, falou que eu sou vejo o copo metade
vazio das coisas, que esse plano de invasão comunista que está ameaçando o
Brasil estava deixando as pessoas descrentes e que a Globo manipuladora usa as
novelas pra implantar esse pessimismo nas pessoas. Por fim, disse que eu estava
com inveja e foi. (Três semanas depois, após chorar em posição fetal e
emagrecer 3 kg ,
ele me ligou dizendo que tinha dado errado, mas foi só levá-lo pra um bar e
tudo se resolveu).
Quem me conhece sabe que sou uma das pessoas mais otimistas e sonhadoras
com qualquer tipo de relacionamento, mas acho que devemos (sim, me incluo) ter
menos expectativas e acreditar mais que a relação pode sim dar certo, mas no
tempo certo.
Digo isso porque se tem alguma coisa que, assim como Fandangos de
Queijo, cheira mal é quando você encontra uma pessoa completamente descrente,
daquelas que só dizem que não acredita em relacionamentos, que não acredita no
amor, não acredita que as pessoas mereçam confiança, que todos os homens são
iguais, que ninguém presta e por aí vai.
Sei que tem gente que usa isso como artifício, esperando que a outra
pessoa argumente que sim, ela presta, que é diferente de todos e lance um
aquele olhar 43 – aquele assim, meio de lado – e logo depois a beije e diga que
tudo vai ficar bem. Isso aí já entra no joguinho da sedução, não é disso que eu
estou falando.
Acho só que ninguém precisa ser aquela pessoa que no meio de um encontro
xinga todas as pessoas do outro sexo na face da Terra enquanto quebra uma
garrafa na bancada do bar, deixando a mostra o lado meio doentio que todos nós
temos.
Por isso, senhoras e senhores da turma de 2014, usem Filtro Solar e
relaxem. As coisas acontecem quando tem que acontecer e do jeito que tem que
acontecer.
Por mais que fiquemos ansiosos, ajeitando o cabelo no espelho 30 vezes
antes de sair, que usemos as roupas íntimas novinhas e que criamos situações e
discussões imaginárias no nosso interior, relaxar e deixar as coisas
acontecerem é a melhor maneira de agir e de fazer as coisas darem certo.
E aproveitem para se divertir, sem neuroses. Até porque, caso não dê
certo, você ainda terá boas histórias pra contar, nem que seja sobre aquela numa
delegacia, depois de ser assaltado e ter que dar explicações pro delegado sobre
de quem era aquilo que estava no bolso da pessoa que estava com você.
Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha
Adorei o texto! Concordo plenamente! As coisas acontecem quando tem que acontecer. Relaxar é a melhor opção. E a mais sábia creio que seja não se importar, NUNCA, com as opiniões familiares jogadas sem ao menos saberem o que queremos. Mas não se importar exige tambem treinamento diário e auto conhecimento...gostar de nós mesmos e adquirirmos segurança.
ResponderExcluir