quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Um nem tão pequeno assim desabafo sobre relacionamentos


Desde que terminei um relacionamento, vários amigos, amigas dos amigos e, principalmente, alguns membros femininos da minha família (leia-se mãe, irmã, tias e primas) têm batido na tecla de que “você está ficando velho e precisa arranjar uma namorada logo” com uma insistência que o Dalai Lama teria um acesso de fúria.

O mais interessante disso é que ninguém me pergunta nada. Ninguém quer saber se eu já tenho outra pessoa, se quero ser solteiro convicto pro resto da vida, se quero voltar pra ex, se fiz voto de castidade e vou virar padre ou até mesmo monge budista. Simplesmente ficam repetindo esse mantra como se fosse uma verdade absoluta.

E pra piorar, existe a figura das pessoas que querem juntar você com alguém e armam um encontro. Aliás, um encontro não. Um encontro arranjado.

Tenho certeza de que se consultarem os alfarrábios biográficos do Freud, do Caio Fernando Abreu ou do cantor Fábio Júnior – pessoas que mais entendem de relacionamentos – todos eles dirão em alguma página, frase ou nota de rodapé que encontros combinados não dão certo. E que o primeiro encontro combinado é sinônimo de tragédia, tai Adão e Eva que não me deixa mentir.

E primeiro encontro é aquela coisa. Gera uma expectativa danada pra todo mundo e pode gerar qualquer coisa, desde um encontro sem resultar em nada ou um casamento, um namoro, uma troca de beijos morna ou até uma noite de sexo após beber duas garrafas de vinho e acordar ao lado da outra pessoa e ficar tão sem graça que não vai ter coragem de ligar e sim mandar apenas um whatsapp perguntando se tá tudo bem e obter como resposta um “Eitaaa. Tudo” e depois soltar um “então, você sabe o que eu fiz com meu crachá? Não sei onde coloquei e mandar um email pro RH da empresa solicitando um novo não será legal”.

É essa expectativa que atrapalha todo mundo, inclusive as cobaias vitimas desse encontro arranjado. O que poderia resultar em “E foi assim que conheci sua mãe, filho, a mulher da minha vida” pode resultar em “E foi assim que acabei a noite numa delegacia, depois de ser assaltado e ter que dar explicações pro delegado que aquilo que estava no bolso dele(a) não era meu”.

Quem me conhece (ou ao menos já leu alguns textos meus) sabe que não sou o tipo de pessoas que tem know-how para dar opiniões, dicas ou qualquer coisa do tipo sobre relacionamentos. Sempre fui uma pessoa tímida (e quem me conhece não adianta falar an-rããã), nunca tive muito sucesso com conquistas – tanto é que acabei blogueiro – e acho que existem, no mínimo, 6 bilhões de pessoas que dominam mais o assunto do que eu, mas o fato é que sempre achei que deixar as coisas acontecerem sempre foi o caminho mais certo.

Aliás, são duas coisas que fazem parte desse caminho certo: Deixar as coisas acontecerem e ser quase-você mesmo nestes casos.

Sim, você leu certo. Quase-você mesmo. Não que eu seja falso do tipo que fala que sou alto, loiro, atlético (isso sou mesmo, Aqui é Galo Porra!) e tenho olhos verdes, não é isso. Mas não dá pra ser eu mesmo, por completo, nos primeiros encontros.

Tipo, algumas características são essenciais, como o fato de eu gostar de Beatles (já perceberam?), ser atleticano, ter barba falhada e citar meu blog. Não tem jeito de fingir nada disso e são o tipo de coisa que se conta na primeira conversa.

Mas faz sentido eu ser eu mesmo e contar que sou fã de quadrinhos do tipo saber de cor o juramento dos Lanternas Verdes, saber o nome de 14 clones diferentes do Homem-Aranha ou explicar que existe um Robin que virou Asa Noturna e que virou Batman quando o Bruce Wayne estava paraplégico? Ou falar que sei falas do Rei Leão de cor, que fui as premieres da trilogia do Senhor dos Anéis e que li e assisti a Octologia do Harry Potter e falo “Wingardium Leviosa” enquanto seguro um lápis apontando pra um objeto qualquer, tentando levitá-lo? Falar que assisto até hoje Cavaleiros do Zodíaco quando vejo passando ou que faço coleção de tampinhas? Não dá pra ser tão transparente e contar essas coisas assim de cara.

Então, Amor, este é o quarto que vou fazer pra mim...

Claro que é importante ser você mesmo, até porque falsidade ideológica é crime, mas também é legal levar em conta que não é uma boa ideia se expor demais. Sei que com o tempo, as coisas caminham e a tendência é a minha futura esposa saber dessas coisas (talvez quando nosso filho entrar na faculdade eu conto).

Outra coisa que me irrita nessa ansiedade toda é que pode causar na outra pessoa que está indo pro tal encontro arranjado. Uma vez, um amigo marcou um encontro com uma menina que ele estava de olho há um bom tempo. Mas esse cara só faltou mudar o status no Facebook para “Feliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiz =] =] =]”, e ficou repetindo que ela era tão linda, simpática, gente boa, perfeita, divertida, inteligente e que era a mulher da vida dele. Eu tinha tanta certeza de que esse cara iria se arrumar umas 4 horas antes do encontro com a menina, e que durante o banho já pensava onde ia comemorar o aniversário de 2 anos de namoro e se o salário que ele ganhava daria para pagar prestações de uma lua-de-mel na República Dominicana, que eu tive que perguntar:

- Você não vai repetir esses elogios pra ela não, né?

- Cara, mulher gosta de ser elogiada.

- Eu sei, parceiro, mas dizer que ela é linda uma vez é legal. Três é meio exagerado. Mas dizer quinze vezes que ela é linda, perfeita e etc é no mínimo um indício de que você é um maníaco que vai roubar o rim dela e deixá-la numa banheira de gelo.

Obviamente, ele me xingou todo, falou que eu sou vejo o copo metade vazio das coisas, que esse plano de invasão comunista que está ameaçando o Brasil estava deixando as pessoas descrentes e que a Globo manipuladora usa as novelas pra implantar esse pessimismo nas pessoas. Por fim, disse que eu estava com inveja e foi. (Três semanas depois, após chorar em posição fetal e emagrecer 3 kg, ele me ligou dizendo que tinha dado errado, mas foi só levá-lo pra um bar e tudo se resolveu).

Quem me conhece sabe que sou uma das pessoas mais otimistas e sonhadoras com qualquer tipo de relacionamento, mas acho que devemos (sim, me incluo) ter menos expectativas e acreditar mais que a relação pode sim dar certo, mas no tempo certo.

Digo isso porque se tem alguma coisa que, assim como Fandangos de Queijo, cheira mal é quando você encontra uma pessoa completamente descrente, daquelas que só dizem que não acredita em relacionamentos, que não acredita no amor, não acredita que as pessoas mereçam confiança, que todos os homens são iguais, que ninguém presta e por aí vai.


Sei que tem gente que usa isso como artifício, esperando que a outra pessoa argumente que sim, ela presta, que é diferente de todos e lance um aquele olhar 43 – aquele assim, meio de lado – e logo depois a beije e diga que tudo vai ficar bem. Isso aí já entra no joguinho da sedução, não é disso que eu estou falando.

Acho só que ninguém precisa ser aquela pessoa que no meio de um encontro xinga todas as pessoas do outro sexo na face da Terra enquanto quebra uma garrafa na bancada do bar, deixando a mostra o lado meio doentio que todos nós temos.

Por isso, senhoras e senhores da turma de 2014, usem Filtro Solar e relaxem. As coisas acontecem quando tem que acontecer e do jeito que tem que acontecer.

Por mais que fiquemos ansiosos, ajeitando o cabelo no espelho 30 vezes antes de sair, que usemos as roupas íntimas novinhas e que criamos situações e discussões imaginárias no nosso interior, relaxar e deixar as coisas acontecerem é a melhor maneira de agir e de fazer as coisas darem certo.


E aproveitem para se divertir, sem neuroses. Até porque, caso não dê certo, você ainda terá boas histórias pra contar, nem que seja sobre aquela numa delegacia, depois de ser assaltado e ter que dar explicações pro delegado sobre de quem era aquilo que estava no bolso da pessoa que estava com você.



Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha 

Um comentário:

  1. Adorei o texto! Concordo plenamente! As coisas acontecem quando tem que acontecer. Relaxar é a melhor opção. E a mais sábia creio que seja não se importar, NUNCA, com as opiniões familiares jogadas sem ao menos saberem o que queremos. Mas não se importar exige tambem treinamento diário e auto conhecimento...gostar de nós mesmos e adquirirmos segurança.

    ResponderExcluir