sexta-feira, 7 de março de 2014

CSI Sonho de Valsa


Roubaram meu Sonho de Valsa.

Só quem gosta de chocolate, como eu, sabe o ódio que isso dá e sobre como obedecer ao mandamento “Não Matarás” é difícil nesse momento.

Ganhei um Sonho de Valsa de uma colega de trabalho, mas no momento em que fui presenteado, havia acabado de escovar os dentes. Resolvi, então, guardá-lo para um momento oportuno.

Eu sei que passaram-se seis dias e lembrei do tal Sonho de Valsa quando quase comi a mão da minha vizinha de mesa - que ostentava um Lollo – tamanha vontade de comer um doce.

Calmamente, feito um fumante que retira um cigarro do seu maço e o acende com um zippo – no estilo James Bond da década de 70 -, abri minha gaveta com todo garbo, elegância e salivação para poder degustar aquela iguaria que me acalmaria, mas não achei.

Então, alterando minha postura para aqueles viciados que reviram gavetas atrás de um trocado ou para achar o resto da droga que os consomem, revirei minha mesa e não achei vestígios.

E comecei a suar frio.

Precisava daquela dose. Aliás, era a dose ideal para tirar o gosto de frango que restou do almoço e recompensar meu estomago por aceitar beterraba, vagem e couve-flor durante a refeição.

Como um lord inglês, afastei minha cadeira pra trás, descruzei a perna, pigarreei para a voz sair mais limpa e, calmamente, disse:

- Ô Carái, sô! (sou mineiro mesmo) Quem foi o viado que comeu meu Sonho de Valsa? Saporra tem 1 minuto para aparecer aqui!

As pessoas ao meu redor olharam assustadas e depois se entreolharam. Mas permaneceram em silêncio.

- É sério viu! Mexam com minha caneta, no meu teclado, no meu computador e até nas minhas planilhas! Mas não mexam com minha comida! É foda viu...

E o silêncio continuou.

Mas isso não podia ficar assim. Respirei fundo, esfreguei o rosto, contei até 13 e iniciei as investigações.

Eu sabia onde tinha colocado, então seria o local ideal para começar as investigações.

Abri a gaveta e fui procurando todos os detalhes. Sabia que ele estava ao lado do estojo que contém meu kit-TiraBafo (Dentifrício, Escova de Dentes, Fio Dental, Enxaguante Bucal e Halls Preto) que fica ao lado direito. Percebi que ele estava ligeiramente deslocado pra direita, e um pouco pra cima. Concluí que quem pegou era destro pois, se fosse canhoto, a mão chegaria pelo lado esquerdo e empurraria o kit pra baixo e contra a parede e não para cima.

Olhei para o lado e reparei que haviam dois canhotos na sala, os eliminando logo de cara.


Analisei minha gaveta com a luz do celular. Obviamente não encontraria digitais ou sangue ali. Mas qual não foi a minha surpresa em achar, depois de separar clipes, gominhas, canetas, cartelas de neosaldina e dorflex, fichas de cerveja do Bar da Tia Morena e um cabo USB, um fio de cabelo branco.

Isso eliminava mais uma pessoa da minha sala. Restavam apenas duas pessoas que eram destras e possuíam cabelos brancos.

Olhei pelo chão atrás de pegadas, mas não localizei. Procurei por algum rastro na mesa e nada.

Levantei da mesa e fui até as mesas dos envolvidos.

Na primeira mesa, falei baixinho.

- Cara, de verdade. Eu sei que foi você. Tá me devendo um Sonho de Valsa.

- Não fui eu.

- Eu sei que você. Tenho provas suficientes que foi uma pessoa destra e com cabelos brancos.

- Mas ele ali também é. Dá uma olhada no lixo dele que você vai achar o papel do bombom.

Boa! Não havia pensado nisso. Era só revirar o lixo de todos e...

Sem efeito.

Nada foi localizado.

Restou ir a segunda mesa. Falei baixinho de novo.

- Cara, de verdade. Eu sei que foi você. Tá me devendo um Sonho de Valsa.

- Não fui eu. Esqueceu que só como chocolate branco?

- Faz sentido. Bom, mas não saia desta cidade, posso precisar de você.

- Oi?

- Nada não. Foi mal.

É isso! Matei a charada. Se o cara da segunda mesa só come chocolate branco, só poderia ser o cara da primeira mesa.

- Cara, de verdade, devolve meu sonho de valsa.

- Mas não fui eu. Olha meu lixo.

- Já exclui todo mundo e só falta você.

- Juro que não fui eu. Além do que, saí para almoçar antes de você e voltei depois.

- Bom...

O pior que era verdade.

Não havia ninguém na sala durante o almoço e todos tinham saído antes de mim e voltado depois.

Comecei a refazer o caminho e tudo que havia feito para ver em qual momento ocorreu o crime para, então, solicitar as imagens de vídeo pro pessoal da segurança. Depois era só arranjar um mandado e... pronto! Colocaríamos o bandido atrás das grades.

No meio da acareação dos fatos, percebi que minha mochila havia mudado de local e comecei a questionar se haviam roubado, ou melhor, furtado algo na minha mochila. Puxei o zíper para conferência, comecei a mexer nos bolsos dela e...

Bom, o Sonho de Valsa estava lá. Instantaneamente, lembrei que quando havia chegado e verificado o bombom na gaveta, havia escondido na mochila para que ninguém pegasse.

Completamente sem graça, fechei a mochila, voltei minha atenção para a minha mesa e coloquei meus fones no ouvido para trabalhar.

Instantes depois, o cara da segunda mesa passou por mim.

- E aí, Guilherme? Como andam as investigações do Caso Sonho de Valsa?


- Caso Encerrado, cara. Caso Encerrado.



Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha 


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