quarta-feira, 21 de maio de 2014

Colheita Maldita

Eu sei que eu já disse a vocês que certas coisas só acontecem comigo e que alguns vão achar que o texto é repetitivo, mas, o que eu posso fazer?

Foi agorinha mesmo, na manhã desse dia 21/05/2014, que os fatos ocorreram. Tudo por causa de um exame de sangue.

Há 03 meses, passei um longo período de espera para fazer esse mesmo exame. Aguardei quase uma hora na sala e via as pessoas entrando e não saindo dos locais na qual o sangue era colhido e eu, tal qual um menino que vê pacientes gritando na cadeira do dentista enquanto tem vontade de correr sem olhar pra trás, só queria ir embora com medo do que poderia estar acontecendo no interior do laboratório.

Obviamente, minha mente doentia imaginava que se tratava de um laboratório clandestino e que assim que eu sentasse na cadeira, a enfermeira acionaria um botão secreto e eu desceria amarrado na poltrona por cerca de 30 metros através de um tubo, chegando em um porão mal iluminado mas totalmente tecnológico com espiões e médicos trabalhando 24 horas por dia extraindo os órgãos humanos e servindo ao mercado negro internacional.

Mas no fim das contas era apenas um erro no sistema deles mesmo.

Fiz toda essa introdução para dizer que desta vez eu fui preparado. Infelizmente não tinha um relógio com raio laser para cortar as alças que me prenderiam a cadeira caso necessitasse, mas levei um livro e Mp3 Player com bateria carregada para aguardar até longas 4 horas sem que fosse preciso conversar com outro ser humano.

Cheguei ao laboratório e fui para a fila de senhas.

- Bom dia, senhor.

- Bom dia, moça.

- Guia do exame e documento, por favor.

- Aqui.

- Qual a última refeição?

- 20:12 minutos, exatamente 12 horas atrás (Guarde essa informação).

- Ok. Prontinho. Vou imprimir a senha do senhor.

- Tá bom.

- Senhor, só um instante porque o papel da bobina acabou.

- Ok.

E nesse momento comecei a refletir: porque o papel da bobina sempre acaba comigo? Às vezes, acho que é karma mesmo. Algumas pessoas reencarnam puxando a perna, outras com problemas nas costas, algumas com dificuldade pra dirigir sem explicação e eu com esse problema de acabar a bobina das máquinas de impressão.

Se virem indo usar algo, seja no banco, no McDonald’s, caixa de estacionamento de shopping ou maquininha de cartão de débito/crédito, não fiquem atrás de mim na fila porque o papel vai acabar na minha vez. É fato.

Enfim, a menina voltou e interrompeu minhas reflexões:

- Senhor, já troquei a bobina mas meu login expirou. De qualquer forma, pode aguardar aí que vai aparecer sua senha na tela. N11.

- Obrigado.

Claro que não ia dar certo né? Mas acreditei na providência divina e fui lá ler meu livro, ouvir minha música e deixar meu anjo da guarda agir.

Aliás, eu não entendo como funciona essa “normatização” para exames de sangue. Sempre chamam 2 senhas P (que eu deduzo que são preferenciais), 1 senha N (Que eu deduzo ser normal) e um senha R (que eu não faço idéia do que se trata, pois as pessoas atendidas são normais).

Depois de 40 minutos, chamou a senha N10.  Fechei o livro, tirei um fone do ouvido e já estava esperando o atendimento, mas chamaram a P12. Depois a R4, a R5 e a P13.

Mais 15 minutos e enfim, chamaram a N...12.

Nem sei porque fiquei surpreso porque eu já sabia que ia dar errado né? Levantei e fui até a moça da senha.

- Moça, cadê o N11?

- Oh! Vou lá ver o que aconteceu. Peraí.

Aí foi burrice minha. Ela me pediu a guia do exame e documentos e foi pra sala de colhimento do sangue.

E nesse “peraí”, as senhas N13, P13, R6, P14 e R7 foram chamadas, minutos se passaram e nada da moça voltar com minha guia.

Enfim, a moça voltou.

- O senhor vai ser o próximo.

Nesse EXATO momento, chamou a N14. Como um corredor da São Silvestre (imagine a musiquinha) eu tomei a guia da mão da moça e corri pra sala.
- Sou o próximo!

- N14?

- Não, N11.

- Senhor, o próximo é o N14.

- Não! Sou eu! Sou o N11. Pode olhar no sistema! Guilherme.

Aí a moça da senha chegou e disse para a moça me atender.

Fui pra sala e iniciou-se os procedimentos de assinar guia, confirmar dados e etc.

- Horário da última refeição?

- 20:12.

- Senhor, são 09:30. Já se passaram mais de 13 horas. Tenho que confirmar se posso colher o sangue.

- Moça. Você não imagina a fome que eu estou. Colhe o sangue e olha isso depois. Se for o caso eu volto aqui amanhã e faço outro. Mas preciso ir embora comer.

- Não sei se posso, senhor.

- Pode! Por favor.

- Se bem que eu acho que a colheita tem que ser feita de 12 a 14 horas.

- É isso mesmo! Tá na Lei!

- Tá, então estica o braço.

Sangue colhido, era hora de ir tomar café.

- Senhor, vou pedir pro senhor aguardar só um instante. A tinta da impressora para impressão das etiquetas dos tubos acabou. Vou ter que trocar aqui.

Suspirei fundo, olhei pra baixo e pensei que seria melhor se fosse amarrado na cadeira e levado para o porão do laboratório para retirada dos órgãos. Provavelmente era menos estressante.

Aguardei 7 minutos, rubriquei na etiqueta e fui liberado para o café.

Como um etíope, usei o resto das minhas forças para ir para o desdejum, segurando o braço e arrastando o corpo.

Já colhi sangue. Agora é só ir pro desjejum...

Entrei na sala, coloquei a mochila na cadeira, peguei o copo e fui pra garrafa de café.

- Senhor, desculpe, mas o café acabou. A moça foi trocar e daqui uns 10 minutinhos ela volta.

Juro que não tinha animo pra reclamar mais. Apenas me arrastei para fora do laboratório e fui para a lanchonete mais próxima.

Espero que a Globo veja isso porque depois de acabar com a bobina, a tinta da impressora e o café do laboratório, posso pedir música no Fantástico.


Update: Após a publicação do texto, fui deixar o carro pra lavar. Busquei o carro e fui calibrar o pneu, mas o posto aqui perto fechou ONTEM. Dei uma volta, calibrei o pneu em outro posto e quando fui encontrar com o lavador, o gente boa tinha ido embora. Tive que dar mais uma volta pra deixar o carro com outro lavador. Hoje é dia viu? 


Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha

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