quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Indiana Jones e o Pote Sagrado


Às vezes precisamos apenas de um empurrãozinho pra fazer algumas coisas.

Quando recebi, em uma pausa no trabalho, um email chamado “Caça ao Tesouro”, tive a certeza de que isso é verdade.

Assim que li a palavra “Tesouro”, meus olhos brilharam. Imediatamente quis colocar meu chapéu, minha jaqueta de couro, pegar o chicote e o embornal e sair em busca de um tesouro perdido.

Porém, ao descobrir qual era o objeto a ser encontrado, meu ímpeto arqueológico diminuiu. Era um artefato do qual ninguém tinha notícias e que poucas pessoas vivas já haviam visto ao vivo e em cores. 

Fui embora pra minha casa acreditando que era impossível caçar o tal tesouro. Pelo celular, até tentei achar alguma coisa na internet, mas sem sucesso.

Porém, pouco tempo depois, ao acessar uma rede social, em um tweet despretensioso, recebi uma foto recente do que procurava. E o melhor, em um lugar que não havia pensado.

Por mais que soubesse que era algo desaparecido, era muita coincidência.

Abri a geladeira e tentei achar algo pra comer, só pensando em como seria bom se obtivesse sucesso e achasse o tesouro prometido. E ali, em meio a mexericas e fatias de abacaxi, resolvi tentar no dia seguinte. Adormeci pensando na busca.

Resolvi porque o desafio era grande e porque traria satisfação pessoal. Não ficaria rico, não me traria fama, nem mulheres. Apenas realização.

Me senti como o Indiana Jones no Reino da Caveira de Cristal, que com idade superior às suas mais famosas aventuras, apareceu novamente.

Depois do tesouro do Colégio e da Pedra da Batcaverna Perdida, era hora de agir novamente.

Abri o email, peguei os detalhes, anotei o tweet despretensioso, cruzei as informações e tracei a rota.

Fui conferir primeiro o tweet.

Na hora do almoço fui até o endereço. Fechado.

Tudo bem, fui para o estágio 2 da rota. Nada.

Como eu sei que esses obstáculos aparecem, fui para o 3. Nada também, assim como o 4 e o 5.

E tive que voltar ao trabalho. Risquei do Mapa o caminho que havia feito e percebi que andei em círculos, sem atentar para alguns pequenos detalhes e que poderia ter feito outras rodas e opções. E percebi como estava enferrujado.

No segundo dia, resolvi começar pelo fim do caminho indicado e, novamente, a frustração. Mas a vantagem foi que lá encontrei com uma senhora, quase uma anciã-oráculo que, junto com uma jovem padawan (possivelmente avó e neta) disse que tinham notícias do Norte indicando que no alto de uma-montanha-onde-o-vento-sopra-e-o-dinheiro-brota havia o que eu procurava.

Com a informação obtida, era hora de traçar nova estratégia e voltei ao trabalho.

No fim da tarde, ao ir embora e fechar a janela da minha sala, a ficha caiu e eu não acreditei na minha cegueira.

Trabalho em um lugar onde venta demais, as pessoas que moram por aqui têm dinheiro e há um lugar que desprezei por motivos óbvios: Mercado do Cruzeiro.

Saí correndo e com tanta ansiedade que nem coloquei fones de ouvido. Nem acreditava que estava aqui, ao meu lado, o tempo todo.

Entrei no mercado suando frio, percorrendo os corredores meio desnorteado, passando por açougues, bancas de frutas, peixes, sorveterias e lojas de bebidas. Até que vi uma mercearia.

Olhei para as prateleiras como um viciado procurando sua dose diária e eu achei. Estava ali, esquecido, empoeirado, largado em num canto, atrás de um pote de doce de leite e de uma lata de pêssegos em calda.

O motivo de buscas. Pessoas devem ter morrido na procura por aquele pote. Guerras quase ocorreram. Reinados foram ameçados. Era o Graal. O tesouro. O objeto desejado.


Tirei o dinheiro do bolso, paguei, embrulhei aquele pote em um pano e coloquei na mochila.

Fui para casa, abraçando minha mochila como se carregasse 1 milhão de reais em barra de ouro (que valem mais do que dinheiro), demonstrando claramente que eu estava com medo de que me roubassem algo.

Peguei um ônibus e depois o metrô. Pessoas me olhavam e o medo de ser roubado até chegar em casa só aumentava. Quando desci do metrô, olhei em volta com medo de ser seguido e apressei o passo.

Mas já era tarde.

Quando estava atravessando o pontilhão que liga a Estação do Calafate e o Padre Eustáquio, vi que haviam pessoas atrás de mim e do outro lado da ponte.

Resolvi que era hora de trazer o fator surpresa.

- Eu estou com um pote de Paçoquita nessa mochila. Se não me deixarem passar, eu vou soltar!!!

Mas não adiantou.

Eles vieram pra cima de mim. Com medo, comecei a correr e quando estavam quase me alcançando, a mochila se soltou da minha mão e a Paçoquita caiu no Rio Arrudas. E eu também caí. 

Caí da cama e acordei no chão do meu quarto, com a cara no sapato e vi que tudo não tinha passado de um sonho.

E então eu ri. Claro que só podia ser um sonho. 

Só em sonho eu conseguiria fazer aquilo tudo em horário de almoço, correr sem fones de ouvido e pegar metrô em Belo Horizonte. E o principal: Até parece que eu ia conseguir achar essa Paçoquita assim.

Mas por via das dúvidas, vou passar no Mercado aqui perto hoje depois do expediente.


Vai que eu acho né?



Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha

Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk fantastico Gui, mto bom. Texto que envolve, q prende até o fim da leitura, está cada dia melhor! Parabéns e Deus te abençoe!

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